Desenvolvimento tecnológico de suspensões e liofilizados de nanocápsulas poliméricas para a veiculação do neuroprotetor idebenona
Resumo
A idebenona é um antioxidante, derivado sintético da coenzima Q10, com várias aplicações, como em neuroproteção. No entanto, este fármaco possui baixa solubilidade em água, potencial irritativo e instabilidade química, fato que tem despertado o interesse em sua associação a sistemas nano-organizados. Dentre estes, destacam-se as nanocápsulas poliméricas (NC). Óleos vegetais, contendo compostos antioxidantes, como óleo de coco e de palma, podem ser interessantes para a composição destas partículas. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi desenvolver suspensões de NC contendo diferentes óleos como núcleo (palma, coco ou triglicerídeos de cadeia média), almejando à veiculação do neuroprotetor idebenona, de forma a comparar o comportamento dos sistemas quanto à estabilidade físico-química, fotoestabilidade, controle de liberação, além da conversão em formas farmacêuticas sólidas redispersíveis (liofilizados). As NC foram preparadas pelo método de deposição interfacial de polímero pré-formado. Conforme os resultados, foi possível preparar suspensões de NC de poli(ε-caprolactona) e óleo de palma (OP/PCL) ou de Eudragit® RS100 e óleo de coco (OC/EUD), contendo idebenona (1,0 mg/mL), com características físico-químicas adequadas, sendo que fatores como proporção das fases aquosa/orgânica, tipo de tensoativo de baixo EHL e de polímero influenciaram a otimização dos sistemas. Para fins comparativos, formulações correspondentes foram preparadas com triglicerídeos de cadeia média (TCM/PCL ou TCM/EUD), empregando as mesmas condições. As suspensões apresentaram diâmetros médios entre 166 e 216 nm, baixos índices de polidispersão (0,085-0,142), potencial zeta positivo ou negativo, dependendo das características do polímero e elevada eficiência de encapsulamento. Quando estas suspensões foram submetidas a estudo de estabilidade, à temperatura ambiente e expostas ou não à luz, durante 75 dias, verificou-se manutenção dos diâmetros médios de partículas e baixos índices de polidispersão. Entretanto, o teor de idebenona decaiu significativamente neste período, com influência significativa do tipo de polímero. Após, estudo de fotoestabilidade demonstrou que as suspensões de NC OP/PCL (UVC/UVA) e TCM/PCL (UVA) foram capazes de reduzir significativamente a degradação da idebenona (teor remanescente: 53,7-76,1%) em comparação a uma dispersão micelar aquosa contendo o fármaco (teor remanescente: 31,2-63,1%), além de promoverem liberação controlada da mesma (t1/2 26 h), sem efeito burst, com perfil ajustado ao modelo monoexponencial (t1/2<3,0 h para fármaco livre). A liofilização das suspensões, empregando trealose, um carboidrato solúvel, resultou em produtos adequados (teor entre 96-100 %; umidade inferior a 3,6 %), redispersíveis (índice de ressuspensão entre 0,8-1,2) e com a presença de inúmeras estruturas esféricas, inclusive na faixa coloidal, caracterizando a presença das NC nestes produtos secos. No estudo de estabilidade (temperatura ambiente/proteção da luz e da umidade), observou-se que os produtos liofilizados foram capazes de retardar ou diminuir significativamente a degradação da idebenona em comparação às suspensões de origem, independentemente do tipo de polímero (PCL/EUD) e de óleo (OP/OC/TCM). Sendo assim, os sistemas desenvolvidos são promissores para a liberação controlada do neuroprotetor idebenona.