Entre as interfaces das racionalidades da saúde: por que terapia floral?
Resumo
A ciência ocidental, hoje, é a ciência instituída que vem em primeiro lugar, com características como a objetividade, mensuração e o cartesianismo. Este trabalho vem trazer à luz, de certa forma, uma discussão antiga sobre o que é ciência. E, por trás desse pano de fundo, desvela-se a questão central: quais motivos levaram alguns médicos, imersos na racionalidade biomédica e, consequentemente, na racionalidade científica ocidental, a olhar outras racionalidades da saúde, chegando a escolher trabalhar com pelo menos uma delas, a medicina floral, tema central deste estudo. Justo esta, uma medicina embasada em outra racionalidade de saúde, em outra racionalidade científica e, com isso, outra compreensão de sujeito, de doenças, de saúde, de tratamento e de cura. Enquanto a ciência médica ocidental foca seu olhar nas doenças, órgãos e lesões e ainda está a passos lentos, começando a olhar para os sujeitos e sua relação consigo mesmo e com o seu entorno para pensar a cura e a doença, a medicina floral que é uma das medicinas complementares olha o sujeito em todas as suas relações para realizar seu diagnóstico e seu tratamento, sem fragmentar o indivíduo e seu corpo. Através da análise de conteúdo de Bardin (2010), realizada com as oito entrevistas feitas com médicos que também atuam com medicina floral no município de Porto Alegre-RS, foram observadas seis categorias, as quais indicam as diferenças das racionalidades e as influências de cada uma em seus trabalhos e, ainda, os motivos pela escolha da medicina floral como mais uma ferramenta de trabalho no tratamento dos sujeitos doentes, ou melhor, com algum desequilíbrio físico, mental ou emocional. As categorias são: 1. O que é doença?; 2. O que é cura?; 3. O que é saúde?; 4. Como é a medicina ocidental; 5. Como é a medicina floral; 6. Caminho da biomedicina ao floral. Estas categorias indicam a forma de pensar dos médicos durante sua história de vida e sua história profissional, o que os influenciou e até os levou a trabalhar com terapia floral. Alguns deles já possuíam em sua vida fatores e concepções que foram os pilares para aguçar sua curiosidade em relação a outras formas de cuidado com os pacientes, que complementassem o que aprenderam com a medicina. Outros médicos, totalmente imersos na racionalidade científica e médica ocidental, foram pegos de surpresa pelos efeitos do floral em suas vidas ou na vida de pessoas próximas, o que os fez repensar sobre seu agir médico. Todos, no entanto, ao entrar em contato com a medicina floral, disseram ter percebido nesta a possibilidade de ajudar seus pacientes e a si mesmos na arte de curar o sofrimento humano, obtendo assim resultados que foram e são interessantes ou mesmo surpreendentes. Talvez essa surpresa não seja apenas pelos resultados, mas pela maior aproximação que o estudo dos florais possibilitou entre esses médicos e seus pacientes, e, assim, entre esses médicos e a arte de curar, tornando-os, ainda mais, agentes de cura de sujeitos, e não apenas de doenças ou lesões.