Publicidade autorreferencial do diário gaúcho: encenações do produto midiático e do leitor
Resumo
O enfoque dado ao jornal impresso, neste trabalho, extrapola a função institucionalizada na construção social dos relatos e direciona-se à noção de produto midiático a ser vendido pelo mercado publicitário. Nossa atenção volta-se a anúncios que referenciam o próprio veículo de comunicação em que estão sendo difundidos, anúncios que denominamos autorreferenciais. Nosso principal objetivo é investigar a construção do jornal em anúncios autorreferenciais do jornal Diário Gaúcho, pertencente ao Grupo RBS Rede Brasil Sul -, para sistematizar as variáveis presentes nos contratos de comunicação dos anúncios publicitários, a fim de encontrar formações que indiquem os modos de encenação do produto midiático e do leitor popular. O aporte do conceito de articulação (HALL, 2003), alinhado aos Estudos Culturais, permite considerarmos que o texto e o contexto da mensagem publicitária se inscrevem no espaço de produção jornalística como uma autorreferência: a instância midiática tensiona promessa e produto em um mesmo espaço de circulação, marcado por determinadas matrizes culturais (SUNKEL, 1985). Adotamos a noção de contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 2006) como instrumento teórico-metodológico de análise do corpus, composto por dezenove anúncios veiculados em diferentes edições do jornal Diário Gaúcho, no período entre 2008 e 2009. Verificamos que a vinculação entre anúncio e contexto midiático se funde a articulações próprias do produto midiático com seu público. No caso do Diário Gaúcho, é notável a transposição de conceitos adotados em sua linha editorial aos anúncios: reforça preceitos de jornalismo popular direcionado a um público sem o hábito de leitura. O jornal é encenado como um amigo do leitor, havendo, portanto, apagamento das características do jornal como produto midiático. O leitor, por sua vez, é encenado sob duas perspectivas: uma que exalta a afetividade, a alegria, o colorido e as tradições; e outra que remete à posição de subordinação e desamparo vivenciada pelas camadas populares. A publicidade autorreferencial do Diário Gaúcho constrói o jornal pelo viés subjetivo e emocional nos moldes da matriz cultural simbólico-dramática, que imbrica o contrato à identificação com o leitor.