Comunicação de risco e cobertura de desastres: o campo jornalístico e as fontes especializadas
Resumo
A partir dos pressupostos da Comunicação de risco, o trabalho investiga as relações
entre fontes e jornalistas na cobertura de desastres, para avaliar o papel do jornalista e apontar
alguns elementos que possam contribuir com uma cobertura de qualidade.
Metodologicamente, o trabalho baseia-se em revisão bibliográfica e em entrevistas individuais
e semiabertas. A partir da análise de seis meses de edições Zero Hora, mapeamos e
entrevistamos as fontes especializadas utilizadas pelo jornal nas matérias relativas a desastres
que envolvem o clima. Também entrevistamos os jornalistas autores de matérias sobre
desastres, para saber como eles lidam com o desafio de cobrir o tema e como se relacionam
com os especialistas. Por meio das entrevistas, o trabalho apresenta as compatibilidades e os
antagonismos presentes na relação entre o campo jornalístico e os campos das fontes
especializadas. A dissertação divide-se em três capítulos. No primeiro capítulo, A sociedade
e a comunicação no contexto dos riscos , aborda-se o conceito de Sociedade de risco e de
Comunicação de risco. O segundo capítulo, intitulado Campos sociais e fontes jornalísticas
na cobertura de desastres , discute o conceito de campo, as especificidades e as relações entre
os campos, além do conceito de fonte. Já o último capítulo, A visão dos especialistas sobre a
cobertura jornalística de desastres , analisa as entrevistas com as fontes especialistas e com os
jornalistas e propõe algumas ações para nortear o trabalho jornalístico. A análise das
entrevistas está dividida em duas partes. A primeira diz respeito à lógica e ao funcionamento
do campo jornalístico e abrange valores-notícias, apuração e relação entre fontes e
especialistas. A segunda parte busca estabelecer elementos para um protocolo de ação e está
divida em três partes: Antes do desastre: a necessidade da prevenção , Momento de crise:
os cuidados e limites para os jornalistas em um desastre e Após o desastre: a fiscalização
jornalística . Com o trabalho conclui que, assim como outros campos, o jornalismo precisa de
protocolos para lidar com situações de riscos. Além disso, ainda há muito para se avançar no
diálogo entre o campo jornalístico e as fontes especializadas, uma relação que apresenta
incompatibilidades, principalmente tendo em vista que os campos seguem lógicas diferentes.
Entendemos que o jornalista não pode ser apenas um testemunho dos fatos, mas tem que
realizar um trabalho intelectual para analisá-lo e compreender a sua função e seu papel dentro
da rede de desastres, tendo em vista o papel social do jornalismo. A dissertação insere-se na
linha de pesquisa Mídia e identidade porque compreende o jornalismo no interior do
paradigma sociocêntrico e leva em consideração as ações da sociedade junto ao jornalismo,
destacando o papel ativo dos jornalistas na produção da informação.