Lazer mercadoria e juventude: relações entre o público e o privado a partir do caso concreto da Boate Kiss
Resumo
Esta pesquisa objetivou analisar as relações entre lazer em danceterias na cidade de Santa Maria no âmbito da
legislação , a partir de uma realidade concreta: o desastre na Boate KISS. Como caminho metodológico
lançamos mãos da análise documental do Inquérito Policial da Boate KISS ; das matérias da Mídia impressa
Diário de Santa Maria referentes aos anos de 2013 e 2014 e da Lei Complementar nº 14.376, de 26 de
dezembro de 2013. E, como meio de interpretação utilizamos os pressupostos da Análise de Conteúdo.
Elencamos as categorias para análise: lazer mercadoria, juventude universitária, danceterias, legislação,
fiscalização, Boate KISS, risco e segurança. A análise realizada dos documentos explicitou: a articulação do
lazer mercadoria, juventude e riscos à lógica do sistema de produção capitalista; e que a busca da juventude por
êxtase no lazer e dos proprietários pelo lucro relega ao segundo plano os aspectos relativos à segurança, em
especial, a infraestrutura e os alvarás. Ademais, a precarização do lazer público na cidade de Santa Maria,
tornam os estabelecimentos de lazer privado, com maior ênfase as danceterias, os principais espaços de lazer da
juventude universitária, as quais se constituem em mercadorias que comercializam desejos de forma alienada.
Nesse contexto, o desastre não foi um acaso, mas resultante de diversas negligências. Em suma, a infraestrutura e
o gerenciamento às normas de segurança demandam observação e questionamento para além da
condescendência e a aceitação acrítica aos modismos sociais e à fetichização do lazer. A criação de legislações
que garantissem a segurança nas danceterias posterior ao desastre, em especial a Lei Kiss, constituiu-se um
marco histórico do país. Não obstante, a posterior flexibilização da Lei Kiss explicitou que o sistema econômico
e os interesses privados permanecem sendo os grandes balizadores da política e, consequentemente, das relações
entre o publico e o privado. No sistema capitalista, a segurança não é um componente de primeira ordem, ao
contrário, esvanece-se em detrimento da principal preocupação: o lucro.