Jovens e adolescentes no ensino médio: sintomas de uma sistemática desvalorização das culturas juvenis
Resumo
Esta pesquisa, vinculada à Linha de Pesquisa Educação, Política e Cultura do PPGE/UFSM, visa aprofundar a discussão contemporânea sobre a relação entre as culturas
juvenis e o ensino médio, a partir da análise das construções de sentido de jovens do terceiro ano do ensino médio de duas escolas da cidade de Santa Maria, uma pertencente à
rede pública estadual de ensino e outra à rede privada de ensino. Com isto, procurou-se identificar os sentidos subjetivos elaborados por estes alunos sobre o ambiente escolar, a relação com os professores e sobre a própria juventude que habita as salas de aula da cidade de Santa Maria. Como procedimento metodológico, dentro de uma abordagem qualitativa de pesquisa educacional, foi adotada a utilização de grupos focais, a fim de que pudessem
ser captadas as falas juvenis de uma forma coletiva, o mais próximas possíveis de suas habituais formas de comunicação com colegas e amigos. Em seguida, optamos pela análise
de conteúdo, destacando-se então categorias emergentes das falas pesquisadas e que nos proporcionaram compreender mais detidamente as construções de sentido dos jovens do
ensino médio da cidade de Santa Maria. O referencial teórico utilizado buscou abranger diversos autores imersos na produção de conhecimentos sobre a juventude e a adolescência contemporâneas, como pesquisadores da área da psicologia social, das ciências sociais, antropologia social, educação e psicanálise. Dessa forma, optamos por uma compreensão multidisciplinar da constituição das culturas juvenis brasileiras, no intuito de serem tecidos apontamentos que contemplem ao mesmo tempo as contingências psíquicas e sociais, globais e locais na produção de uma subjetividade juvenil presente nos espaços escolares. Identificou-se, após a análise dos dados da pesquisa, a presença de um monoculturalismo escolar orientado para o desempenho, o qual prescreve como possibilidades de sentido para o estudo no ensino médio apenas a adesão conformada aos processos seletivos ao ensino superior realizados pela Universidade Federal de Santa Maria. Percebeu-se, ainda, a partir das falas analisadas, a consolidação de uma subcultura juvenil centrada em uma forma utilitarista de adesão ao ensino, a qual, ao ser constantemente reforçada pelos professores e agentes escolares, termina por operar uma exclusão sistemática das demais culturas juvenis que habitam as escolas da cidade de Santa Maria. Concluímos a pesquisa enfatizando as conseqüências educacionais de uma lógica empobrecedora presente no ensino médio, a qual demarca negativamente as identidades juvenis que se afastam das tentativas de imposição de sentido elaboradas pelos professores em sala de aula.