O atendimento educacional especializado como uma tecnologia de governamento: a condução das condutas docentes na escola inclusiva
Resumo
Na contemporaneidade, através das políticas de inclusão escolar e da Educação
Especial, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) constituiu-se como capaz
de complementar ou suplementar a formação dos sujeitos ditos com deficiência, com
transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação e, por
isso, implicado com a produção de formas de docência à escola inclusiva. Dessa
maneira, esta dissertação de Mestrado em Educação visa compreender como,
através do AEE, produzimos e gerenciamos as condutas docentes para atuarem nas
salas de recursos multifuncionais. Trata-se, de modo específico, de mapear as
lógicas e as operações desse serviço da Educação Especial na contemporaneidade;
analisar as relações entre o AEE e a educação inclusiva nas práticas neoliberais;
problematizar o governamento docente na escola inclusiva. Para tal, a materialidade
de pesquisa contempla documentos legais e didáticos referentes à Rede Nacional
de Formação Continuada de Professores na Educação Especial, bem como os
projetos pedagógicos dos cursos do AEE que integram o Programa de Formação
Continuada de Professores na Educação Básica, na modalidade a distância,
desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A partir dos
Estudos Foucaultianos em Educação, utilizou-se a ferramenta governamentalidade
na problematização dos efeitos dessa atual Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva na organização e implantação do AEE nas
escolas inclusivas e, especificamente, na formação continuada de professores.
Considerando a produção de uma subjetividade docente à escola inclusiva como
uma estratégia da racionalidade política neoliberal que perpassa essa materialidade
de pesquisa, três unidades analíticas foram construídas como forma de
problematizar as táticas colocadas em operação nesse processo, a saber: a
docência no jogo de cada um e de todos, a docência como querer modificar-se, a
docência como prática solidária. Dessa empreitada teórico-metodológica, pode-se
entender que essa racionalidade política, através da formação continuada de
professores, garante o desenvolvimento dos processos de individualização e
totalização na Educação Especial como forma de gerenciar o risco de seu públicoalvo
e promover o consumo, a concorrência. Ainda, para efetivar esses processos
por meio da verdade científica, o AEE ensina cada docente a investir em si mesmo,
nos outros para, como empresários de si, participarem de práticas solidárias. Então,
a mesma racionalidade política, esta que serve como referência para a biopolítica,
que promove o empresariamento de si na docência, opera na produção de práticas
solidárias na escola inclusiva a fim de garantir o sucesso da inclusão escolar. O AEE
como uma tecnologia de governamento docente na escola inclusiva.