Institucionalização escolar e empreendedorismo: efeitos da governamentalidade neoliberal na sujeição do aluno a EJA
Resumo
A presente dissertação se propõe a problematizar os efeitos da governamentalidade neoliberal na condução dos sujeitos na contemporaneidade, em uma sociedade gestada pela lógica da seguridade. Ao propor tal empreendimento investigativo, este estudo olha para a escola compreendendo-a como um dos mais potentes lócus de produção de sujeitos agenciado ao Estado. Sendo assim, a pesquisa tem como objetivo compreender os efeitos da governamentalidade neoliberal na produção de sujeitos contemporâneos, a partir da aliança Estado e Escola. Para alcançar tal objetivo, foram realizadas entrevistas com cinco alunos que frequentam a modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos, compreendendo que esta é uma prática que dá visibilidade a governamentalidade por excelência. As recorrências encontradas nas entrevistas narrativas convidaram a buscar, na inspiração genealógica de Michel Foucault, as condições de existência que possibilitam a emergência desses discursos, constituindo-os como verdades, delineando e produzindo os sujeitos da contemporaneidade. A análise empreendida nas recorrências extraídas das entrevistas narrativas permitiu a identificação das seguintes anunciações: a necessidade de ser institucionalizado no contexto da escola e a necessidade de tornar-se empreendedor de si. Para olhar para essa materialidade, foi utilizado como ferramenta analítica o conceito de governamentalidade desenvolvido por Michel Foucault. A partir destas lentes, percebeu-se que a institucionalização, por meio da educação, é entendida como prática de salvação que vem se desenvolvendo ao longo da história, fazendo com que os sujeitos sejam capturados e tenham suas condutas conduzidas para atender às conveniências do Estado em cada momento histórico, demonstrando a potência da verdade sobre a escola, operando mesmo quando o sujeito não está vinculado a esta instituição. O mesmo acontece com o empreendedorismo, que, desde a industrialização, vem se utilizando da educação como veículo para subjetivação de um sujeito capaz de empreender em si mesmo, autogerenciar sua vida e seus riscos por meio de buscas incessantes por melhores condições de vida, o que, na contemporaneidade, significa possibilidade de consumir, participar. Ao final da pesquisa, embora o foco da investigação tenha sido a EJA, entende-se que essa modalidade de ensino, assim como a educação especial, a educação quilombola e a educação à distância, entre outras, é atingida pelo imperativo de verdade que denomina a
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inclusão, desenvolvida na lógica do neoliberalismo, para capturar todos os sujeitos e constituí-los como alvo das tecnologias de governo atuais.