Relações hídricas e trocas gasosas em plantas de feijão submetidas à irrigação deficitária
Resumo
A escassez dos recursos hídricos e a pressão social para o uso racional da água na agricultura exigem o
correto uso e manejo da água de irrigação, pois, a falta ou excesso, comprometem o rendimento das
culturas. O uso da irrigação, deficitária ou estratégica, contribui para o aumento da produtividade de
grãos, comparando-se às condições de sequeiro, e resulta em uma agricultura economicamente mais
eficiente, preservando os recursos naturais em termos de quantidade e qualidade, mantendo níveis
satisfatórios de produtividade. Portanto, o presente estudo se justifica na medida em que se busca
identificar manejos de irrigação deficitária que permitam manter níveis satisfatórios de produtividade,
aliados à economia de água e energia. Assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar as relações hídricas
e as trocas gasosas, através da avaliação de variáveis fisiológicas que indiquem alterações na produção
das plantas de feijão, quando submetidas a diferentes manejos de irrigação deficitária. O experimento
foi desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria, Brasil, no interior de uma cobertura móvel,
estruturada sobre trilhos metálicos, com movimentação mecânica, a qual somente foi fechada durante
a ocorrência de chuvas. Dessa forma, não houve a interferência das chuvas durante a execução dos
tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com três
repetições. Os tratamentos foram constituídos de quatro manejos de irrigação: reposição de 100% da
evapotranspiração da cultura acumulada (ETc ac), e irrigação deficitária de 75%, 50% e 25% da ETc
ac. A cultura do feijão foi semeada sob sistema de plantio direto e a necessidade de irrigação foi
determinada com base na evapotranspiração da cultura, estimada pelo método de Penman-Monteith e
os coeficientes de cultura (Kc) foram os propostos por Allen et al. (1998). Irrigações eram realizadas
quando a ETc acumulava um valor de 20 mm. As seguintes relações hídricas e trocas gasosas das
plantas foram avaliadas: taxa de transpiração, condutância estomática, déficit de pressão de vapor na
folha, concentração interna de CO2 e taxa fotossintética, com o aparelho LI-6400 da Licor. Com os
valores de taxa fotossintética, taxa de transpiração, condutância estomática e concentração interna de
CO2 foram determinados: a eficiência instantânea da transpiração (razão taxa fotossintética/taxa de
transpiração); a eficiência intrínseca do uso da água (razão taxa fotossintética/condutância estomática)
e; a eficiência de carboxilação das plantas (razão taxa fotossintética/concentração interna de CO2).
Foram avaliadas as seguintes características morfológicas nas plantas: índice de área foliar e altura de
plantas e, os componentes de rendimento: massa de cem grãos, número de vagens por planta e
rendimento de grãos. A eficiência de uso da água foi encontrada por meio da razão entre a
produtividade de grãos (kg ha-1) e total de lâmina aplicada (mm). Durante o ciclo de desenvolvimento
da cultura do feijão a ETc ac foi de 379,7 mm e foram aplicados 122, 206, 290 e 376 mm de lâmina de
irrigação para os tratamentos de 25, 50, 75 e 100% da ETc ac, respectivamente. A aplicação da
irrigação deficitária reduziu o índice de área foliar, a altura das plantas e causou reduções de até
47,41% no número de vagens por planta, 39,26%, na massa de cem grãos de feijão e 53,41% no
rendimento de grãos. A redução da lâmina de irrigação de 100% para 25% da ETc ac reduziu em até
87% a condutância estomática das plantas e estas apresentaram menor taxa fotossintética. As plantas
que receberam lâmina de irrigação de 100% da ETc ac apresentaram maiores taxa de transpiração e
eficiência de carboxilação. A eficiência instrínseca do uso da água e a eficiência do uso da água
aumentaram com a utilização da irrigação deficitária.