Regime hidrológico de duas microbacias contíguas: um comparativo entre uso urbano e rural
Resumo
A ação antrópica provoca alteração no escoamento natural das bacias. As cheias podem se
tornar mais intensas, as estiagens mais imediatas e prolongadas, os processos erosivos
acelerados, enquanto a qualidade da água tende a deteriorar-se. Com isso, a questão que
se coloca neste trabalho é a necessidade de se conhecer o impacto provocado pela
mudança do uso e ocupação do solo, no escoamento, com ênfase no espaço urbano.
Portanto, o presente trabalho objetiva avaliar as diferenças no escoamento entre duas
bacias contíguas e com a mesma área: uma com o uso preponderantemente agrícola e
outra com o uso primordialmente urbano. Para isso, buscou-se avaliar a influência da
urbanização sobre o regime hidrológico por meio do balanço hídrico, utilizando-se duas
microbacias, uma com 54% de sua área urbanizada - MU e a outra coberta por campo
nativo e áreas utilizadas para agricultura MR, ambas com a mesma área de 2,31 km².
Mais especificamente, busca-se quantificar algumas variáveis componentes do balanço
hídrico para estimar a disponibilidade hídrica e avaliar as pequenas vazões, utilizando
curvas de permanência. Por meio da análise de hidrogramas construídos com dados de
vazão coletados simultaneamente, de hora em hora, nas duas microbacias, dos eventos que
geraram as vazões máximas avaliaram-se as diferentes variações de vazão e as máximas
geradas, utilizando os dados coletados no período compreendido entre janeiro e outubro de
2011. O balanço hídrico global mostrou que a MU apresentou um escoamento 5,1 vezes
maior que a MR, e, em nenhum dos meses monitorados, a MR apresentou um deflúvio
superior a MU, merecendo destaque os meses de janeiro e fevereiro, em que se constatou a
maior diferença em mais de 29 vezes. Em relação às vazões com permanência maiores que
40%, analisando de forma global, a MU apresentou volume escoado 7,9 vezes maior do que
a MR, e, em nenhum dos meses, o volume escoado na MR foi superior ao da MU, o que
pode ser explicado pela hipótese de a MR não possuir contribuição subterrânea em seu
deflúvio, somente da camada vadosa do solo. Já a análise dos hidrogramas mostrara que a
MU apresenta uma aceleração em seu escoamento, fazendo com que ocorram oscilações
de vazão em períodos menores que na MR, apresentando o seu pico de vazão até quatro
horas antes do que a MR, vazão máxima de até 13743 L/s, enquanto a MR apresentou uma
vazão máxima de 275 L/s, o que representa uma diferença de 66 vezes, demonstrando o
efeito da urbanização dentro da microbacia. Portanto, para o período da pesquisa, a MU
apresentou maior volume escoado pelo efeito da urbanização dentro da microbacia e maior
disponibilidade hídrica do que a MR, enquanto a MR apresentou maior perda por
evapotranspiração e infiltração de água no solo do que a MU.