Efeito de reservatório de aproveitameto de água da chuva sobre redes de drenagem pluvial
Resumo
O crescimento urbano e a ocupação desordenada das cidades têm aumentado a frequência e a severidade das
enchentes em áreas urbanas, que ocorrem, principalmente, devido à modificação nas condições naturais de infiltração
das águas pluviais, decorrentes do aumento da impermeabilização do solo. Em busca de soluções sustentáveis para
mitigar os impactos da urbanização, as políticas públicas vêm incentivando o uso de técnicas compensatórias (TC)
para o controle do escoamento superficial. Uma alternativa já difundida em algumas cidades brasileiras é o uso de
microrreservatório (MR), que armazena temporariamente os volumes oriundos do escoamento das áreas impermeáveis,
esvaziando gradativamente a água armazenada. Paralelamente a essa exigência, a implementação de reservatórios para
o aproveitamento da água da chuva (RAAC) com fins não potáveis vem sendo incentivada, com o intuito de reduzir o
consumo de água tratada para fins menos nobres e preservar os mananciais. Algumas bibliografias sugerem que além
desses benefícios, o RAAC pode ser considerado igualmente uma TC, já que armazenaria o escoamento pluvial, e por
essa razão, em algumas cidades onde o MR é exigido, muitas edificações já estão utilizando o RAAC em substituição a
este. No entanto, verifica-se uma falta de estudos conclusivos a respeito dos reais benefícios e impactos que a captação
da água da chuva e seu aproveitamento têm sobre as redes de microdrenagem pluvial e, especificamente, se esta
técnica pode ser considerada como compensatória. Assim, o principal objetivo desta pesquisa foi avaliar se os RAACs
podem ser considerados como medidas para o controle quantitativo do escoamento pluvial. Para isso, foi realizada uma
análise comparativa do impacto que a sua utilização gera sobre as vazões e redes de microdrenagem, com o impacto
gerado em um sistema com MR. A análise foi realizada mediante modelagem matemática de uma bacia hidrográfica
urbana da cidade de Porto Alegre/RS, com 977 ha, 30.720 lotes padrão e cerca de 70 km de redes de microdrenagem.
Os MRs simulados foram dimensionados de acordo com o Decreto n° 15.371/06 da cidade de Porto Alegre para o
controle do escoamento na fonte, resultando em volumes de 3,13 m³ e 3,75 m³, para chuvas de projeto com 5 e 10 anos
de período de recorrência (CP-TR5 e CP-TR10), respectivamente, atendendo à vazão de restrição permissível na saída
do lote (VR = 0,624 L/s). As redes de microdrenagem foram dimensionadas para as situações que contemplaram os
MRs e para a situação sem os MRs, para CP-TR5 e CP-TR10. Para o dimensionamento dos RAACs foi realizada uma
simulação contínua de 12 anos de dados de chuvas e série de demandas para fins não potáveis, ambas com intervalo de
tempo de 5 minutos, tendo sido determinados os volumes de 5.000, 10.000 e 15.000 litros como os mais adequados
para a edificação, em razão da garantia de atendimento atingida. Esses volumes de RAACs substituíram os MRs e
novas modelagens foram realizadas considerando tanto eventos de projeto, como as chuvas reais da série contínua.
Verificou-se que os RAACs não são eficientes na manutenção da VR na saída dos lotes, sendo que ao longo da série
história simulada a mesma foi infringida várias vezes. Para a série histórica simulada apenas um volume de 750 m³
seria adequado para garantir apenas uma infração em 10 anos da simulação. Isso ocorre porque deve haver volume de
espera suficiente para armazenar os volumes escoados, sem que haja vertimento, independentemente da condição de
armazenamento do reservatório; no entanto, se existe uma capacidade de armazenamento muito grande, e as demandas
são comparativamente pequenas, o reservatório não esvazia. Constatou-se, dessa forma, que existe um antagonismo
quando se pretende utilizar o RAAC para as duas funções: controle de escoamento superficial e garantia de
atendimento à demanda com fins não potáveis, visto que a tentativa de garantir o cumprimento da primeira função
inviabiliza a implantação de volumes tão grandes. O extravasamento dos RAACs para 12 eventos críticos simulados
comprometeu a capacidade das redes de microdrenagem, gerando armazenamento de água nas ruas ao longo de vários
trechos. Considerando os mesmos 12 eventos críticos e os MRs nos lotes foram identificados apenas 4
extravasamentos e menores vazões extravasadas, o que acabou comprometendo uma menor extensão das redes de
drenagem. Portanto, com base nas análises da simulação contínua com os RAACs, verificou-se que não é possível
considerá-lo uma técnica equivalente aos MRs para o controle do escoamento pluvial, a menos que os volumes de
reservação sejam extremamente elevados, o que tornaria impossível a sua implementação em um lote de poucos
metros quadrados.