Estudo anatômico do lenho e descrição morfológica de cinco espécies sul-rio-grandenses da família Rhamnaceae
Resumo
A família Rhamnaceae é pouco representada no Brasil e escassamente conhecida no tocante à estrutura anatômica da madeira. Compreende espécies com extraordinária
diversidade de hábito e aspectos morfológicos com tendência ao xeromorfismo. O presente estudo teve por objetivo investigar a anatomia do lenho, além de fornecer a descrição
morfológica de cinco espécies nativas: Colletia paradoxa (Sprengel) Escalante, Discaria americana Gillies et Hooker, Gouania ulmifolia Hooker et Arnott, Rhamnus sphaerosperma
Swartz e Scutia buxifolia Reissek. Foram utilizadas amostras de madeira e exsicatas provenientes de Xiloteca e Herbário do Departamento de Ciências Florestais da Universidade
Federal de Santa Maria, bem como de outros herbários do Rio Grande do Sul e de coletas próprias. A terminologia usada na descrição botânica seguiu Radford et al. (1974). A
descrição da madeira seguiu as recomendações da Copant (1973), basicamente. A maior parte das características anatômicas observadas concorda com o padrão típico da família: poros não exclusivamente solitários; elementos vasculares muito curtos, geralmente com apêndices
curtos; placas de perfuração exclusivamente simples; pontoações intervasculares alternas, não ornamentadas e com abertura inclusa; parênquima paratraqueal escasso, em séries não estratificadas; raios heterogêneos tipo II, muito numerosos, não estratificados e não exclusivamente unisseriados; e fibras não septadas, providas de pontoações simples na parede. A presença de apêndices em elementos vasculares constitui novidade para as Rhamnaceae. As
cinco espécies estudadas apresentam particularidades anatômicas suficientes para a sua identificação. A freqüência e diâmetro de poros, bem como o comprimento de elementos
vasculares, estão aparentemente relacionados com o hábito de crescimento das espécies. A presença predominante de características anatômicas especializadas atribui um caráter
evoluído ao xilema secundário das espécies estudadas. Do ponto de vista anatômico, foram também reconhecidas características xeromórficas no lenho. Com relação à morfologia externa, é preferível o não reconhecimento de categorias infra-específicas em Rhamnus sphaerosperma Swartz, como proposto por Johnston & Johnston (1978), devido à sobreposição de alguns caracteres morfológicos usados pelo autor, para separação das variedades. No caso de Colletia paradoxa, apesar das consideráveis variações observadas na morfologia externa dos ramos entre alguns indivíduos, não é recomendado o reconhecimento
de espécies distintas, pela semelhança nas estruturas reprodutivas.