Influência de diferentes ácidos graxos sobre parâmetros comportamentais e oxidativos em ratos submetidos ao estresse agudo
Resumo
Os ácidos graxos (AG) são constituintes importantes das membranas fosfolipídicas cerebrais e desempenham importantes funções no sistema nervoso central (SNC) podendo modificar a plasticidade e fluidez, além de atuar de forma decisiva no desenvolvimento de patologias cognitivas e neuropsiquiátricas. Durante as últimas décadas, foram observadas mudanças nos hábitos alimentares, as quais possibilitaram o aumento do consumo de ácidos graxos trans, em detrimento do consumo de ácidos graxos poliinsaturados (AGPI), principalmente o ômega-3. Além disso, situações frequentes de estresse devido a pressão do mundo exterior também podem estar associadas com o desenvolvimento de doenças que envolvem o SNC e alterações na função metabólica, particularmente no metabolismo dos ácidos graxos. Neste estudo, duas gerações sequenciais de ratas foram suplementadas com óleo de soja (C-OS), óleo de peixe (OP) e gordura vegetal hidrogenada (GVH) durante a gestação, lactação e após o desmame. Aos 41 dias de idade, parte dos animais machos, da segunda geração, foram expostos ao estresse agudo (EA-2h), enquanto a outra metade foi utilizada como controles, e avaliados em campo aberto e labirinto em cruz elevado, seguido por eutanásia para análises bioquímicas. O grupo suplementado com GVH, não expostos ao estresse, apresentou maiores sintomas de ansiedade, enquanto os grupos C-OS e OP não mostraram esses comportamentos. Entre os grupos expostos ao EA, o GVH mostrou maior locomoção e sintomas semelhantes à ansiedade, mas isso não foi observado no grupo OP. As análises bioquímicas mostraram níveis mais elevados de peroxidação lipídica e menor viabilidade celular no córtex do grupo GVH. Além disso, os ratos tratados com GVH mostraram reduzida atividade da catalase no estriado e hipocampo, bem como aumento da geração de espécies reativas no estriado, ao passo que OP foi associado com aumento da viabilidade celular no hipocampo. Entre os grupos expostos ao EA, o grupo GVH mostrou aumento da geração de espécies reativas no cérebro, diminuição da viabilidade celular no córtex e estriado, e diminuição da atividade da catalase no estriado e hipocampo. Os resultados mostram que a presença de AG durante o desenvolvimento e crescimento ao longo de duas gerações é capaz de modificar parâmetros de comportamento e status oxidativo do cérebro. Tomados em conjunto, nossos dados suportam a ideia de que o consumo regular de uma dieta rica em ácidos graxos monoinsaturados (AGM) e AGPI, e particularmente pobre em alimentos processados, pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de distúrbios emocionais, além de sugerir a influência nociva do consumo de gordura trans ao longo de gerações, a qual é capaz de aumentar parâmetros de emocionalidade e ansiedade após situações estressantes da vida
cotidiana podendo desencadear condições neurológicas e neuropsiquiátricas mais graves.