Estratégias de reparo na atribuição do acento primário do inglês por falantes nativos de PB
Resumo
Neste estudo, investigamos as estratégias de reparo aplicadas ao padrão de acento primário do
Inglês, no processo de aquisição, por falantes nativos de português brasileiro (PB). Para esse
propósito, utilizamos a Teoria da Otimidade Conexionista (COT), a partir dos estudos de Bonilha
(2004) como sua base teórica. A COT, além de prever a interação de restrições, a interação de
diferentes níveis fonológicos (como segmental, silábico e acentual) e o reranqueamento no processo de
aquisição de uma L2, também propõe que restrições específicas da L2 devam ser adquiridas. No
presente estudo, analisamos a aquisição do acento do inglês em palavras sufixadas, especialmente, na
produção de palavras cujo sufixo carrega o acento, como -oon, -eer, -ee, -ette, -esque, -ese, -ique, -et, -
aire, -euse e -eur. Levando-se em consideração o processo de reranqueamento, intentamos caracterizar
a hierarquia de interlíngua evidenciada pelas produções desviantes dos aprendizes a tal padrão. Com
este objetivo, usamos dados de linguagem oral de dezesseis sujeitos, acadêmicos de Letras -
habilitação Língua Inglesa de uma universidade do Sul do Brasil. Os dados consistiram de duas
coletas, realizadas por meio de um instrumento que contém 135 palavras (entre sufixadas e nãosufixadas)
e 135 frases-veículo. Em seguida, houve a transcrição fonética pelo método de oitiva e a
revisão por dois avaliadores. As transcrições tiveram por base o Alfabeto Fonético Internacional
(IPA). Os dados foram tratados estatisticamente com o teste Qui-quadrado via programa Statistica 7.0.
Pudemos observar que, dentre os sufixos que apresentam comportamentos distintos, no que concerne
ao acento da palavra primitiva, os sufixos que atraem o acento primário foram os que apresentaram o
menor percentual de acertos, aproximadamente 50%. Os dados também confirmam as tendências,
apontadas por outros estudos em aquisição de L2, de que os sistemas de interlíngua apresentam a
militância da hierarquia de restrições da L1. Evidenciamos isso pelo predomínio do padrão acentual
trocaico como estratégia de reparo, que responde por cerca de 50% dos tokens desviantes e, como
argumenta Bisol (1992), o padrão trocaico é o predominante do PB. Com relação aos sufixos que
atraem o acento primário, há evidências de que o prolongamento da vogal, que é o principal elemento
considerado na atribuição de peso da sílaba e na atração do acento em palavras como refugee e
mountaineer, não está sendo adquirido pelos falantes nativos de PB, conforme já aponta o estudo de
Nobre-Oliveira (2007). Visto os dados de que dispomos nesta pesquisa, compreendemos que algumas
restrições ligadas ao prolongamento e fidelidade da vogal acentuada, bem como algumas restrições de
marcação, precisam ainda ser ranqueadas na hierarquia de interlíngua dos aprendizes. Também,
relacionamos o fenômeno de atribuição flutuante do padrão oxítono sufixado a sua baixa frequência no
léxico do Inglês. Assim, observamos que a frequência também parece desempenhar um importante
papel nas produções orais dos sujeitos. Em suma, acreditamos que tais fatores devem conspirar para a
emergência de produções desviantes ao padrão da língua alvo. Por fim, com este estudo, pudemos
comprovar a validade dos presupostos da COT e tomá-la como um modelo linguístico pertinente à
descrição e análise de dados de aquisição de L2.