Encefalomalacia focal simétrica em suínos causada por ingestão de sementes de Aeschynomene indica
Resumo
Relata-se um surto espontâneo de intoxicação em suínos pela ingestão de sementes de Aeschynomene indica e a reprodução da doença nessa espécie animal. O surto espontâneo ocorreu numa propriedade de criação de suínos localizada na região central do Rio Grande do Sul. Nessa propriedade havia 100 suínos (20 matrizes e 80 suínos jovens de várias categorias). Os suínos eram alimentados com uma ração feita na propriedade pela mistura de 50% farelo de milho, 25% de farelo de soja, 5% de um suplemento vitamínico mineral de origem comercial e 20% quirera de arrroz contaminada por 40% de sementes de A. indica. Embora aparentemente todos os 100 suínos tenham recebido a mesma ração, apenas os suínos de 45 dias de idade foram afetados; as taxas de morbidade, mortalidade e letalidade foram respectivamente 25%-40%, 8,5%-20% e 25%-66%. Os sinais clínicos apareceram ≈ 24 horas após o início da administração da ração contendo sementes de A. indica e incluíam vários graus de incoordenação no andar, quedas, decúbito esternal com membros pélvicos posicionados afastados entre si, decúbito lateral e morte. Não foi possível determinar quantos suínos se recuperaram e quanto tempo levou a recuperação. Um suíno foi necropsiado na propriedade. A doença foi reproduzida em 5 suínos jovens (AE) alimentados com uma ração contendo 10% (Suíno A), 15% (Suíno B) e 20% (Suínos CE) de sementes de A. indica e em um suíno adulto (Suíno F) que recebeu uma ração com 16,5% das sementes de A. indica. Os sinais clínicos foram semelhantes aos observados nos suínos do surto espontâneo. Os Suínos A, B e F foram submetidos à eutanásia e os Suínos C-E morreram de uma doença aguda respectivamente 16, 21 e 24 horas após o início do experimento. Os achados de necropsia incluíam acentuada hiperemia das leptomeninges em todos os suínos, grandes quantidades de sementes de A. indica no estômago e intestino delgado dos Suínos C-E e avermelhamento transmural da parede do intestino e conteúdo intestinal sanguinolento. Um hematoma foi observado no pulmão do Suíno C. Os achados histopatológicos no encéfalo dos suínos alimentados com as maiores concentrações (20%) de sementes de A. indica (C-E) consistiram de congestão, edema, hemorragia e tumefação dos endotélios capilares em diversos núcleos e no córtex telencefálico. No Suíno F que recebeu uma ração com 16,5% de sementes, as lesões foram semelhantes em distribuição, porém mais intensas. Nos suínos alimentados com concentrações menores (10% e 15%) das sementes de A. indica, as alterações histológicas no encéfalo consistiam de áreas bem definidas de malacia focal simétrica; nessas áreas a neurópila normal era obliterada por numerosos macrófagos espumosos dispostos em aposição estreita, astrocitose e capilares com endotélios tumefeitos. Os focos de malacia focal simétrica em suínos intoxicados com sementes de A. indica afetavam os núcleos cerebelar e vestibular, a substância negra, o putâmen e os núcleos mesencefálicos, oculomotor e núcleo vermelho. Esses dados indicam que ingestão de sementes de A. indica é responsável por essa condição neurológica em suínos e que o desenlace clínico e as alterações patológicas são dependentes da dose.