Aspectos clínicos e patológicos da intoxicação espontânea por Senecio spp. em ruminantes no Rio Grande do Sul
Resumo
Durante um período de 24 meses foram realizadas visitas periódicas a propriedades de bovinocultura de corte no Rio Grande do Sul, onde havia a suspeita de intoxicação por Senecio spp. Na primeira parte desta dissertação, relata-se a ocorrência de um surto de intoxicação natural por Senecio brasiliensis em bovinos em que o principal sinal clínico observado foi fotossensibilização. O surto ocorreu em setembro de 2013, acometendo vacas adultas que permaneceram durante os seis meses anteriores em um campo de 205 hectares com abundante infestação por Senecio brasiliensis. Fotossensibilização foi observada em 83 vacas de um total de 162 (51,3%). Realizou-se biópsia hepática em todas as vacas do rebanho e três vacas doentes foram necropsiadas. Os principais achados histopatológicos decorrentes de intoxicação por Senecio brasiliensis nos bovinos biopsiados foram fibrose hepática, megalocitose e proliferação de ductos biliares, observados em 119 animais. Seis vacas testadas apresentaram aumento da atividade sérica da gama glutamil transferase. Na segunda parte da dissertação, foi realizado um estudo de um surto de intoxicação por Senecio spp. em ovinos em 2014, dando-se ênfase aos aspectos morfológicos para o estabelecimento do diagnóstico da intoxicação nessa espécie. Dez ovelhas adultas de um rebanho de 860 ovinos morreram com sinais da doença e oito que estavam doentes foram eutanasiadas e necropsiadas. Os sinais clínicos incluíam emagrecimento, apatia e fotossensibilização. Quatro ovelhas, de um total de sete que foram testadas, apresentaram aumento da atividade sérica da gama glutamil transferase e duas apresentaram fosfatase alcalina sérica elevada. Na necropsia, em três dos oito ovinos necropsiados, o fígado estava levemente mais firme, com superfície capsular ligeiramente irregular e com nódulos pálidos na superfície de corte. Em outros três ovinos o fígado era macroscopicamente normal. Em dois dos oito ovinos necropsiados a cápsula de Glisson era brancacenta devido à fibrose, e parcialmente aderida ao diafragma. Histologicamente, as principais alterações observadas, que contribuíram para o estabelecimento do diagnóstico de intoxicação crônica por alcaloides pirrolizidínicos nas ovelhas deste surto foram hepatomegalocitose, proliferação de ductos biliares e fibrose. Todas as ovelhas apresentavam degeneração esponjosa grave no cerebelo e pedúnculos cerebelares, ponte, mesencéfalo e tálamo. Sugere-se que esses sejam os sítios anatômicos de eleição no encéfalo para a observação dessa lesão em ovinos com intoxicação por Senecio spp.