Tratamento clínico de cães com diagnóstico presuntivo de doença do disco intervertebral
Resumo
A doença do disco intervertebral (DDIV) é uma afecção frequente na clínica neurológica de cães, representando 45,8% dos casos neurológicos atendidos pelo Serviço de Neurologia do Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal de Santa Maria. Os locais mais acometidos pela doença são os segmentos toracolombar (T3-L3) e cervical cranial (C1-C5) da medula espinhal. A manifestação clínica ocorre devido a uma combinação do efeito compressivo do material de disco e da lesão de impacto na medula espinhal, decorrente principalmente da extrusão do disco e varia de acordo com o segmento da medula espinhal afetado e da severidade da lesão. Pode ser evidenciada apenas por hiperestesia espinhal, enquanto as lesões mais graves podem levar a tetra/paraplegia com ausência da nocicepção (dor profunda) caudal a lesão. O tratamento clínico para DDIV geralmente é indicado para cães com hiperpatia associada ou não a mínimas deficiências neurológicas e consiste em repouso absoluto em gaiola entre quatro a seis semanas. Já a cirurgia é o tratamento de eleição para cães com deficiências neurológicas graves (tetraparesia não ambulatória, tetraplegia, paraplegia com ou sem nocicepção em menos de 48 horas), em cães refratários ao tratamento clínico, ou que apresentem recidiva da doença. Em contraste com os inúmeros estudos avaliando a eficácia do tratamento cirúrgico em cães com DDIV toracolombar e cervical, estudos demonstrando a eficácia do tratamento conservativo são escassos na literatura. Diante desses fatores, o objetivo desse estudo foi identificar cães com diagnóstico presuntivo de DDIV toracolombar e cervical que foram submetidos ao tratamento clínico e avaliar a resposta à terapia instituída; além de avaliar a relação da idade, do gênero, da duração dos sinais clínicos e do tratamento de acordo com o grau neurológico como fatores prognósticos na evolução clínica desses pacientes. Foram analisados 506 registros neurológicos (n=379 toracolombar; n=127 cervical), e selecionados aqueles pacientes com diagnóstico presuntivo de DDIV submetidos ao tratamento clínico como primeira opção. A evolução clínica foi satisfatória em 73,3% dos casos de DDIV toracolombar, e 92,7% dos casos de DDIV cervical, demonstrando que o tratamento clínico com repouso absoluto, administração de anti-inflamatórios e analgésicos opióides é efetivo, principalmente em graus mais leves da doença. O tratamento conservativo apresenta um índice considerável de recidiva, cujos sinais neurológicos poderão ser mais graves do que a primeira apresentação clínica. O gênero, a idade e a duração dos sinais clínicos não apresentam efeito prognóstico na evolução clínica dos pacientes de DDIV toracolombar e cervical, na amostra estudada.