Advecção de nebulosidade rasa sobre o sul do Brasil devido a atuação do anticiclone transiente na confluência Brasil-Malvinas
Resumo
A advecção de nebulosidade rasa em direção ao continente após a passagem de frentes
frias e ciclones extratropicais, pelo Sul da América do Sul, é um fenômeno frequentemente
observado, e tem persistência característica de 1-2 dias, podendo durar por períodos superiores a
3 dias consecutivos. O presente estudo identificou sobre o Sul do Brasil 108 casos entre 2005 e
2010, os quais foram caracterizados utilizando reanálises do NCEP/NCAR. Uma climatologia
sazonal definiu que as ocorrências foram mais frequentes no outono e no verão, e menores na
primavera e no inverno. São apresentadas as direções médias do vento sobre o Sul do Brasil
(Sudoeste, Sul, Sudeste e Leste), devido aos posicionamentos do centro do anticiclone sobre três
regiões preferenciais. Com base nesses resultados, foram obtidos três padrões sinóticos, bem
como suas distribuições sazonais. Evidenciou-se que o deslocamento da massa de ar frio a partir
da Região de Confluência Brasil-Malvinas (CBM) em direção ao Sul do Brasil deve-se à ação
do anticiclone transiente. Ao longo do percurso, ao passar sobre a CBM da região de águas frias
para a região de águas aquecidas, o escoamento estável sofre instabilização em baixos níveis
devido à processo de mistura turbulenta, fluxos de calor e umidade. Consequentemente, uma
camada rasa de convecção desenvolve-se corrente abaixo do escoamento, com amplo suporte a
formação de nebulosidade rasa dos tipos estratiforme e cumuliforme. Os padrões sinóticios
mostram a subsidência em grande escala como mecanismo inibidor do desenvolvimento de uma
camada convectiva profunda. Mesmo assim, tal cobertura de nuvens foi suficiente para gerar
precipitação de fraca intensidade e/ou chuviscos sobre o Sul do Brasil. A análise dos eventos
precipitantes mostrou que o fenômeno afetou com maior frequência a zona costeira, e, por
vezes, o interior do continente. Perfis termodinâmicos médios dos 108 eventos, e especialmente
dos casos precipitantes, indicaram a presença de uma espessa camada de ar seco em níveis
médios e superiores, e uma camada rasa de ar úmido em baixos níveis (1000-700 hPa). Neste
estudo evidenciou-se a importância da CBM para os padrões de tempo e clima regionais.
Mostra-se que a circulação induzida pelo anticiclone transiente é fundamental para o transporte
de ar frio da zona de águas frias para as águas quentes na Confluência, gerando e advectando
nebulosidade rasa e uma camada limite úmida instável sobre o Sul do Brasil.