Micotoxinas em matrizes de milho e trigo: validação de método analítico por ULPC-MS/MS e monitoramento em diferentes pontos da cadeia produtiva e comercial
Abstract
O trabalho teve por finalidade validar um método analítico multimicotoxinas empregando UPLC-MS/MS para determinação simultânea de 12 micotoxinas em matrizes de trigo e milho. Os parâmetros avaliados para validação do método foram: curva analítica e linearidade, limite de detecção (LOD), limite de quantificação (LOQ), exatidão (recuperação%), precisão (RSD%) e efeito matriz. A extração das micotoxinas foi realizada empregando o método QuEChERS modificado, no qual foram utilizados 12,5 g de slurry (suspensão entre amostra e água), 4,5 g MgSO4 anidro e 10 mL de acetonitrila acidificada a 1% com ácido acético. Após a validação do método, o mesmo foi empregado para pesquisar, quantitativamente, a ocorrência de micotoxinas em 646 amostras, sendo 476 amostras de trigo (ensaios a campo, grãos tipo exportação e importação, grãos para processamento e respectivas frações (farinha e farelo) e farinhas comercializados em supermercados) e 170 amostras de milho (grãos tipo exportação, farinhas coletadas em supermercados, grãos e quirera destinados à fabricação de ração animal). Os resultados obtidos foram satisfatórios para todos os parâmetros avaliados, mostrando desta forma, que o método validado para as matrizes de trigo e milho, é eficaz para determinar as 12 micotoxinas em estudo. O efeito matriz, para algumas micotoxinas ficou fora da faixa de -20 a +20%. Esse efeito pronunciado para alguns analitos foi compensado pela calibração por superposição da matriz. Este método pode então ser utilizado para avaliação das amostras, em que todas apresentaram contaminação por pelo menos uma das 12 micotoxinas estudadas, independente da origem. A micotoxina DON foi predominantemente encontrada em amostras de trigo, enquanto fumonisinas foram as micotoxinas predominante determinadas em milho. Nos ensaios a campo, fatores como genótipo, ambiente e tratamento fungicidas tiveram influência sobre as concentrações de DON. Grãos de trigo tipo exportação e importados da Argentina apresentaram contaminação por DON em todas as amostras. Em trigo tipo exportação, também foi determinado contaminação por FB1, FB2, ZEN e OTA. Há evidências de que este seja o primeiro trabalho a relatar a presença de fumonisinas em trigo brasileiro, visto que não foi encontrado outros relatos na literatura. Nos subprodutos derivados da moagem foi verificado redistribuição de DON, com redução das concentrações na farinha branca e incremento na fração farelo, quando comparados a concentração inicial no grão, evidenciando que tal processo não é eficaz para eliminação de micotoxinas. Foram determinadas as micotoxinas DON e ZEN em amostras de farinhas adquiridas tanto na cidade de Cruz Alta quanto de Santa Maria. Nas amostras de milho tipo exportação foi evidenciada contaminação concomitante por DON, ZEN, FB1 e FB2 e AFLA B1. Nas amostras de farinha de milho coletadas em supermercados todas estavam contaminadas por fumonisinas. Além de fumonisinas foi evidenciado a presença de DON, ZEN e AFLA B1 em algumas amostras. Em amostras destinadas a fabricação de ração animal foi determinada aflatoxinas (B1, B2, G1, G2), fumonisinas (B1 e B2), DON e ZEN, sendo que em alguns casos, as concentrações foram superiores aos limites tolerados pela legislação brasileira. O método de extração, aliado com a técnica cromatográfica para determinação dos analitos mostraram-se eficientes para a análise de micotoxinas em trigo e milho. Mesmo em concentrações abaixo dos limites legais, a exposição humana a micotoxinas pode ocorrer constantemente. O monitoramento de micotoxinas em alimentos é de extrema importância para a saúde pública, visando a disponibilização de produtos de qualidade em todos os pontos da cadeia produtiva e comercial.