Saber, conhecimento e poder: relações de mediação entre agricultores ecologistas e técnicos no Núcleo Missões da Rede Ecovida de Agroecologia
Abstract
No processo de modernização de base técnica da agricultura, que foi implementado e incentivado no Brasil a partir da década de 1960, foi conformado um modelo hierárquico de assistência técnica, o modelo difusionista-inovador, a partir do qual os agentes de extensão rural passaram a propagar que os modelos de agricultura tradicional, praticados pelos colonos, eram atrasados, ineficientes e arcaicos, sendo que deveriam ser substituídos pela prática de uma agricultura “moderna” e eficiente na qual se faria uso, a partir da orientação técnica adequada e do crédito adquirido junto aos bancos, de máquinas, equipamentos e insumos industrializados. Frente à metodologia impositiva de orientação que passou a ser adotada pelos agentes de extensão rural, os movimentos sociais do campo construíram outro modelo baseado em suas experiências e alguns deles incorporaram a agroecologia como modelo para a agricultura. Considerando esse cenário, essa pesquisa tem como objetivo analisar as relações de mediação entre as famílias agricultoras ecologistas, os técnicos e dirigentes ligados ao Núcleo Missões da Rede Ecovida de Agroecologia, tendo em vista que esses agentes se propõem a construir relações horizontais. Para realizar essa investigação foram consultados registros documentais, realizadas entrevistas e observações durante reuniões e atividades das quais se participou ao longo do ano de 2017. Os resultados do trabalho revelam que os técnicos e dirigentes do Núcleo Missões procuram reformular suas práticas com base nas experiências desenvolvidas pelas famílias agricultoras ecologistas. Na assistência técnica são feitas sugestões sobre o manejo ecológico e os cultivos; são realizadas oficinas para que os agricultores dominem a produção de insumos orgânicos; e dias de campo nos quais os agricultores mais experientes são colocados em contato com aqueles que procuram resolver seus problemas de produção. As atividades de troca de experiência realizadas nas reuniões periódicas entre os grupos de famílias ecologistas revelam que o aprendizado de agricultor para agricultor recebe destaque e contribui para um trabalho de assistência técnica mais dialógico e participativo. Contudo, mesmo que na prática da assistência técnica os agrônomos reformulem seus conhecimentos acadêmicos na interação com as famílias ecologistas, existe interdependência e assimetria em relações que são marcadas por um equilíbrio variável de poder. Os dirigentes do Núcleo Missões possuem inserções sociais distintas e em suas trajetórias conformaram capitais culturais e simbólicos que lhes permitem cobrar o cumprimento das normas e regulamentos. O que não impede que os agricultores oponham resistências.
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