Figurações do gaúcho na ficção rio-grandense do século XIX
Resumo
Muito já foi dito e ainda há muito que dizer sobre os habitantes do Rio Grande do Sul. O regionalismo, enquanto corrente artística inspirada nos elos regionais, sempre preconizou pela preservação do patrimônio cultural e artístico das regiões remotas da imensidão brasileira. No extremo Sul, apontou nas letras engarupado em um tipo representativo em afirmação, para eternizar uma história retemperada por um horizonte étnico perfeitamente identificado com a geografia. Do caldeamento de diferentes povos, dos que chegaram à Província de São Pedro com os que daqui eram nativos, brotou, enfeitada pela exuberância dos pampas, a figura do gaúcho. Esse tipo peregrinou de uma conotação pejorativa, haja vista sua clandestinidade e pobreza, para o posto de tropeiro, guerreiro e, até mesmo, herói. Nosso intuito, nesta pesquisa, é desenvolver uma análise a partir de duas obras literárias, a fim de refletir e demonstrar as intervenções que essas produções exerceram sobre a figuração do gaúcho. Cremos na autenticidade deste trabalho, justamente, por investir em uma época em que o mito do gaúcho estava sendo formado. Definimos como corpus as obras A divina pastora (1992), de José Antônio do Vale Caldre e Fião, e O vaqueano (1973), de Apolinário José Gomes Porto Alegre, uma vez que ambos os autores atuaram significativamente na elaboração e desenvolvimento de um sistema literário no Rio Grande do Sul. Nossa questão de pesquisa consiste em problematizar como os escritores do século XIX, em especial os integrantes da sociedade Partenon Literário, empreenderam o movimento de emancipação da literatura regional, construindo a figuração do gaúcho na ficção rio-grandense. Esse recorte temporal justifica-se pela transformação existente no Brasil e, por consequência, no Rio Grande do Sul nesse período. Assim, supomos que tecido nesse processo, o tipo social gaúcho é tomado pela literatura como um herói, que comporta valores como honestidade, lealdade e bravura. Logo, a análise das transposições ficcionalizadas da realidade torna viável a recomposição das particularidades do imaginário coletivo de um tempo de outrora, características que tomam por verdade uma identidade alterada, que passou a compor um mundo simbólico.
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