Práticas maternas na educação de pré-escolares
Resumo
Diversos são os fatores que podem permear as estratégias utilizadas pelas mães no processo educativo dos filhos. Com base na perspectiva bioecológica, este estudo, caracterizado como transversal, qualitativo, exploratório e descritivo, buscou compreender o uso de práticas maternas coercitivas ou indutivas como estratégias educativas em crianças em idade pré-escolar. Participaram desta pesquisa, 12 mães de crianças em idade pré-escolar advindas de famílias nucleares com coabitação, sendo seis consideradas predominantemente coercitivas e seis predominantemente indutivas, que responderam a entrevistas semiestruturadas individuais. Os dados foram integrados e analisados com base nos princípios da Teoria Fundamentada, com o auxílio do software Atlas-ti 5.0. Os resultados apontaram a influência de aspectos pessoais (percepção das mães acerca da infância e as vivências da própria infância), contextuais (microssistema familiar e escolar, amigos, trabalho) e temporais (intergeracionalidade) nas práticas educativas maternas. Constatou-se que as lembranças das mães coercitivas de terem sido vítimas de violência física, psicológica e/ou sexual na infância fazem parte dos fatores pessoais que parecem influenciar nas práticas educativas utilizadas. Essas mães se percebiam reproduzindo algumas das práticas coercitivas com as quais foram educadas, evidenciando a temporalidade das mesmas. A rede pessoal significativa também foi mencionada pelas mães coercitivas como um contexto influente, a partir de trocas de experiências com irmãs, tias, amigos, avós, cônjuge, profissionais e professores. Percebeu-se uma dificuldade dessas em apreender e empregar as práticas parentais positivas, como as observadas no microssistema escolar, utilizadas pelas professoras e por outros membros da rede pessoal. Com relação as mães predominantemente indutivas, lembranças de uma infância com afeto, diálogo e interações familiares prevaleceram. Algumas vivências consideradas negativas na própria criação das mães indutivas, como a punição física e ausência do diálogo, foram mencionadas. Contudo, as participantes destacaram a intenção de repetir na educação dos filhos apenas as práticas consideradas positivas. As mães indutivas também mencionaram a rede pessoal significativa como influente no processo educativo dos filhos. Os desafios da parentalidade também foram reconhecidos pelas mães indutivas e coercitivas, que apontaram a inexistência de receitas ou manuais que descrevessem como educar os filhos e sinalizaram o papel dos pais no estabelecimento de regras e limites na infância. Acredita-se que os dados obtidos, podem contribuir para uma maior compreensão acerca do uso de determinadas práticas educativas maternas, e a partir disso, podem subsidiar programas de intervenção e promoção de práticas parentais positivas, que considerem os inúmeros fatores que podem influenciar as práticas educativas.
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