Morfologia pós-craniana de um novo espécime de Lestodon armatus Gervais, 1855 (Xenarthra, Mylodontidae) do quaternário do sul do Brasil
Resumo
Durante o Cenozoico da América do Sul, as preguiças-terrícolas (Folivora) apresentaram grande irradiação adaptativa que culminou em uma grande diversidade de formas durante o Pleistoceno. Com exceção de algumas espécies arborícolas, a maioria das preguiças foram extintas ao fim desse período. Dentre os Pilosa, Mylodontidae foi um dos clados mais representativos por conta da grande quantidade de espécies. A maior espécie desse foi Lestodon armatus, cuja distribuição ocupava grande parte do continente. Neste trabalho, reportamos um novo espécime (UFSM 11535) atribuído a L. armatus, o qual foi encontrado em bom estado de preservação em um novo sítio fossilífero chamado Arroio do Lestodon, no Vale do Seival, Caçapava do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Além de vértebras, costelas, dentes e outros fragmentos, o que mais se destaca é a preservação de um dos membros posteriores em posição de articulação, evidenciando quase todos os ossos. Foi feita uma descrição detalhada dos ossos do pós-crânio do espécime, assim como comparação com outros espécimes. A atribuição a L. armatus se dá principalmente pela presença dos seguintes caracteres: I) separação das facetas ectal e sustentacular no astrágalo; II) função do ectocuneiforme como metatarsal II pela fusão dos dois ossos; III) pelo processo odontoide do astrágalo em forma de polia com cerca de 90º em relação à faceta discoide; IV) separação por uma crista das facetas astragalianas na tíbia, e V) côndilo medial do fêmur maior que o côndilo lateral. Entre os aportes sobre a variação da morfologia pós-craniana, registramos pela primeira vez o fusionamento entre fíbula e tíbia em L. armatus e a presença de dois sesamoides no metatarsal III. Como futuras perspectivas, análises mais abrangentes da morfologia pós-craniana dos Mylodontidae, bem como de outros pilosos, são necessárias para verificar a presença de variações anatômicas individuais, bem como testar a relevância filogenética dos caracteres presentes nesta região do esqueleto.
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