Filogeografia e modelagem de nicho ecológico de Aegla Leach 1820 (Crustacea, Anomura): um olhar sobre o passado e projeções para o futuro
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Data
2021-03-05Primeiro membro da banca
Zimmermann, Bianca Laís
Segundo membro da banca
Costa, Gabriel Corrêa
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Mostrar registro completoResumo
Endêmica do sul da América do Sul, a família Aeglidae Dana, 1852 é composta por apenas um gênero
atual, Aegla Leach 1820, que possui 89 espécies descritas. Os eglídeos estão distribuídos pelo Brasil,
Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai, em todas as principais bacias hidrográficas, sendo os
únicos anomuros que habitam exclusivamente ambientes de água doce, ocorrendo principalmente em
rios e riachos. Desempenham um importante papel na teia trófica e na ciclagem de nutrientes,
constituindo um importante componente da fauna dos ecossistemas dulcícolas. Contudo, os eglídeos
são os decápodes de água doce mais ameaçados da América do Sul, com 70 % das espécies ameaçadas
de extinção, o que é atribuído principalmente à alta taxa de endemismo em associação com a
degradação dos ecossistemas aquáticos. Outra importante ameaça aos eglídeos são as mudanças
climáticas, as quais permanecem pouco estudadas para o grupo. Este estudo investigou os processos
relacionados à diversificação e distribuição de eglídeos no passado e no presente, assim como os
potenciais efeitos das mudanças climáticas futuras na distribuição do gênero e das espécies Aegla
platensis e Aegla obstipa, que possuem distribuição ampla e restrita, respectivamente, visando
contribuir para a conservação da fauna de água doce. No capítulo I, avaliamos os efeitos das mudanças
climáticas futuras, gerando modelos de nicho ecológico para o presente e para os anos de 2040, 2060,
2080 e 2100, para o gênero Aegla, cobrindo toda a sua área de distribuição, e para as espécies A.
platensis e A. obstipa. Avaliamos ainda a eficiência das áreas de Proteção Ambiental (PAs) para a
preservação dos eglídeos, sobrepondo polígonos dessas áreas sobre os modelos gerados e
quantificando a cobertura das áreas de adequação ambiental. Os modelos apontaram diminuição das
áreas de distribuição potencial para Aegla, desaparecimento dessas áreas em 2040 e 2060 para A.
obstipa, e mudanças de alcance para A. platensis, sugerindo potenciais efeitos negativos das mudanças
climáticas sobre a distribuição dos eglídeos, mais severos para espécies com distribuição restrita. As
PAs mostraram baixa eficácia de conservação para o grupo, tanto no presente quanto nas projeções
para o futuro. Este resultado evidencia a importância de considerar diferentes táxons e os impactos das
mudanças climáticas futuras sobre a distribuição das espécies para o planejamento de PAs, a fim de
melhorar a eficiência de conservação da biodiversidade de água doce. No capítulo II, investigamos a
história biogeográfica de A. platensis integrando métodos filogeográficos usando marcadores
mitocondriais e de modelagem de nicho ecológico para períodos passados (Pleistoceno: Último
Interglacial e Último Máximo Glacial e Holoceno médio) e para o presente. As oscilações climáticas
do Pleistoceno mostraram grande influência na diversificação de A. platensis, o que pode estar
relacionado às mudanças na aridez e na umidade. O clima ameno e úmido do Último Interglacial criou
condições favoráveis à diversificação e colonização de novas áreas, contrastando com o clima frio e
seco do Último Máximo Glacial, que criou condições adversas para a espécie. Além disso, vários
eventos de dispersão e vicariância contribuíram para a atual distribuição dessa espécie. Devido ao fato
de a bactéria Wolbachia infectar muitos grupos de artrópodes, interferindo no polimorfismo de DNA
mitocondrial e confundindo as inferências evolutivas feitas com base nesse marcador, no capítulo III
investigamos se os eglídeos são hospedeiros de Wolbachia. Obtivemos evidências contra a presença da
bactéria no gênero Aegla, um dado importante que justifica a utilização de DNA mitocondrial nas
análises filogeográficas. Os dados desta dissertação enfatizam a necessidade urgente de tomadas de
medidas para a conservação de eglídeos e da fauna de água doce em geral.
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