Infecção de ovelhas prenhes com o vírus da diarréia viral bovina tipo 2 (BVDV-2): patogenia e avaliação de proteção vacinal
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Data
2000-12-19Primeiro membro da banca
Roehe, Paulo Michel
Segundo membro da banca
Weiblen, Rudi
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Mostrar registro completoResumo
O presente estudo teve por objetivos investigar os efeitos da infecção de ovelhas prenhes com o vírus da Diarréia Viral Bovina tipo-2 (BVDV-2) e avaliar a resposta sorológica e proteção fetal conferidas por três vacinas comerciais contra o BVDV. Em um primeiro experimento, os efeitos reprodutivos da infecção pelo BVDV-2 foram investigados em ovelhas inoculadas com um isolado brasileiro não-citopático do BVDV-2 (SV-260) em três fases de gestação. Algumas ovelhas inoculadas apresentaram viremia transitória e hipertermia leve e passageira, além de descarga nasal. Doze ovelhas foram sacrificadas a diferentes intervalos após a inoculação para estudar a cinética da infecção fetal. O vírus e antígenos virais foram detectados nos placentomas entre os dias 7 e 36 pós inoculação (pi); e em fluidos fetais e tecidos entre os dias 10 e 28 pi. Hemorragias petequiais cardíacas e hemoperitônio acompanhados de placentite fibrinosa ulcerativa foram observados em fetos examinados nos dias 21, 28 e 36 pi. A inoculação do vírus nos dias 55-60 de gestação resultou em replicação viral prolongada nos placentomas e tecidos fetais. As ovelhas que progrediram com a gestação tiveram 77% de abortos ou mortalidade fetal e perinatal. Sete cordeiros (natimortos, inviáveis ou viáveis) que nasceram dessas ovelhas foram positivos para vírus ao nascimento. O vírus foi isolado repetidas vezes de dois cordeiros até os dois e seis meses de idade, respectivamente, indicando que eram persistentemente infectados. Ovelhas inoculadas nos dias 65-70 de gestação tiveram 66,6% de perdas fetais ou perinatais. Três cordeiros viáveis que nasceram dessas ovelhas eram saudáveis, soropositivos e negativos para vírus. A inoculação nos dias 120-125 resultou em replicação viral transitória nos placentomas e em alguns tecidos fetais, acompanhada de elevação dos níveis de anticorpos neutralizantes e desaparecimento do vírus do organismo fetal. Ovelhas que gestaram a termo produziram animais saudáveis, soropositivos e negativos para vírus. Esses resultados demonstram que a biologia da infecção pelo BVDV-2 em ovelhas prenhes é semelhante à do BVDV-1 em fêmeas bovinas prenhes, o que faz dessa espécie um modelo adequado para estudos de patogenia da infecção congênita pelo BVDV-2. Em um segundo experimento, a resposta sorológica e proteção fetal conferidas por três vacinas inativadas contra o BVDV (vacinas A, B e C) foram avaliados através de vacinação e posterior desafio de ovelhas prenhes com amostras brasileiras de BVDV-1 e BVDV-2. Níveis baixos a moderados de anticorpos neutralizantes anti-BVDV-1 foram detectados na maioria dos animais (45/47) aos 30 dias após a segunda dose vacinal, ao contrário da atividade neutralizante anti-BVDV-2, que não foi detectada em vários animais (12/47) e foi em geral de magnitude inferior. Os títulos médios de anticorpos reduziram-se significativamente no dia 180, sendo que vários animais já não apresentavam atividade neutralizante detectável frente ao BVDV-1 (grupo B=1/19; C=8/14) e principalmente frente ao BVDV-2 (A=7/14; B=13/19; C=13/14). Os anticorpos produzidos pela vacinação não foram suficientes para prevenir a replicação, disseminação virêmica e transmissão transplacentária dos vírus aos fetos da totalidade das ovelhas nos três grupos. Esses resultados demonstram que as vacinas testadas induziram apenas níveis baixos a moderados de anticorpos neutralizantes contra o BVDV-1 e principalmente contra o BVDV-2. Esses títulos, não foram suficientes para prevenir a replicação viral e a infecção fetal frente aos vírus utilizados no desafio. Esses resultados também demonstram a adequação de ovelhas prenhes para estudos de proteção fetal por vacinas contra o BVDV.
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