“O que não te contaram sobre a escravidão”: o revisionismo histórico no youtube como resistência às cotas raciais
Resumo
Este artigo busca analisar discursos revisionistas de autores de extrema-direita no YouTube sobre a escravidão negra e como esses discursos se inserem em um movimento mais amplo de resistência à política de cotas raciais. A “Lei de Cotas” completou dez anos em 2022 e deve passar por uma revisão e, neste contexto, os discursos de resistência às cotas raciais se fortaleceram, inclusive, através da propagação de discursos históricos revisionistas sobre a escravidão negra. Os dois vídeos do YouTube escolhidos foram O Tráfico de Escravos e a Origem da Escravidão no Brasil, do canal Impérios AD, e O que você nunca ouviu em um debate sobre a escravidão no Brasil, do canal Brasil Paralelo. A partir de discussões de Pierre Vidal-Naquet (1988), Louie Dean Valencia-Garcia (2020) e Damião de Lima e Juliana Alves de Andrade (2021), foram observados a presença de alguns elementos de discursos históricos revisionistas, como a visão de História com presença de teorias de degeneração histórica e nostalgia por passados imaginados; a presença de elementos conspiratórios como a existência de uma “verdade ocultada” pela academia e pelos professores, que seriam tendenciosos; o falseamento, distorção ou dispensa de evidências, fontes e historiografia contrários. Os vídeos utilizam estes elementos de narrativas revisionistas e abordam, de forma distorcida, a existência de escravidão em África antes da chegada dos portugueses e participação de africanos no tráfico negreiro para construir uma narrativa revisionista de exaltação à colonização portuguesa, sua isenção de responsabilidade sobre a escravidão e minimização dos efeitos do racismo na formação da sociedade brasileira.
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