Territorialidade e temporalidade: o resgate de saberes tradicionais a partir das vivências de produção de erva mate de Carijo
Resumo
A erva-mate desempenha um papel crucial na história da formação da América do Sul, com
raízes profundas nos conhecimentos tradicionais dos povos originários. Durante a colonização,
os espanhóis proibiram seu uso, porém sem sucesso a erva continuou a ser bebida e produzida.
A erva-mate persistiu, especialmente nas reduções jesuíticas no Rio Grande, onde seu cultivo
avançou entre 1682 e 1750, sendo comercializada com as colônias espanholas. A dinâmica do
mate e a formação espacial no Rio Grande do Sul foram moldadas pela colonização europeia
do século XIX até 1930, dividindo-se entre colonos ao norte e açorianos ao sul. A partir da
segunda metade do século XX, a exploração madeireira e o pacote tecnológico levaram a ervamate ao processo industrial, resultando na perda dos ervais nativos e dos saberes tradicionais.
A mudança estrutural nos meios de produção gerou tensões territoriais e temporais, afetando a
produção e quem a realiza. O feitio artesanal de erva mate, conhecido como Carijo, uma técnica
ancestral dos povos originários, foi perdendo espaço para métodos industrializados. Além de
ser uma fonte econômica e de consumo, o Carijo promovia sociabilidade por meio de puxirões
ou rondas, acompanhados por manifestações folclóricas. Diante dos desafios contemporâneos
de preservação cultural e ambiental, o trabalho busca resgatar saberes sobre a erva-mate por
meio das vivências de produção de Carijo. O objetivo é compreender a origem da planta, a
técnica do Carijo, a organização das vivências e como contribuem para fortalecer os territórios.
Considerando a importância cultural e ambiental, explorar essas vivências pode ser uma
estratégia valiosa para preservar e transmitir saberes tradicionais, além de fortalecer as
comunidades e seus territórios.