As representações de memórias sobre a loucura e a escrita autobiográfica na narrativa de Hospício é Deus, de Maura Lopes Cançado
Fecha
2024-02-22Primeiro membro da banca
Santos, Pedro Brum
Segundo membro da banca
Botoso, Altamir
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Esta dissertação situa-se entre os estudos que, inseridos no campo da literatura comparada, na América Latina, tendem a incluir, entre seus objetos de estudo, as manifestações literárias ignoradas pelos critérios de literariedade, alinhados a uma lógica etnocêntrica, que vigoraram no passado (Carvalhal, 2003, 2006; Coutinho, 2010). Entre essas manifestações, ganham destaque aquelas que remontam a grupos sociais que foram alvo de processos de exclusão, tais como aqueles tidos como loucos ou doentes mentais. Hospício é deus (1968/2021), da brasileira Maura Lopes Cançado, objeto deste estudo, é uma obra que remonta a um quadro social em que o poder se coloca como regulador dos discursos que abordam a experiência da loucura. Ao representar suas memórias do ponto de vista íntimo de uma internada em um hospício, a narrativa de Maura estabelece importantes diálogos com a história oficial acerca dos processos pelos quais à loucura se recomendou, por muito tempo, a internação. Desse modo, o objetivo geral desta dissertação é investigar como se configuram e qual função assumem as memórias representadas em Hospício é deus, buscando identificar os valores biográficos com que tais representações investem a obra de Maura Lopes Cançado. Para tal, definimos, como objetivos específicos: Revisar as contribuições de autores relevantes para construir um aparato teórico interdisciplinar sobre a temática da loucura e as narrativas biográficas; Realizar uma leitura crítica de Hospício é deus; Investigar como estão configuradas as memórias presentes na narrativa e quais funções assumem; Investigar quais estigmas estão associados às figuras do louco ou doente mental, do médico e de outras personagens centrais nas memórias relatadas; Refletir, com olhar interdisciplinar e contrastivo, sobre a influência que as dimensões social, histórica e cultural exercem sobre o modo como as memórias são retomadas pela narrativa selecionada para estudo. Para cumprir com esses objetivos, esta dissertação é composta por três seções, excluídas as considerações finais, destinadas, respectivamente, à introdução, ao referencial teórico e à leitura crítica da obra. No referencial teórico, cumprimos com o primeiro objetivo específico acima mencionado ao retomarmos o pensamento de autores como Foucault (2002a, 2006, 2009, 2019), Goffman (2008), Jodelet (2001), Halbwachs (1990), Ricoeur (2007) e Arfuch (2010) para estabelecer importantes conceitos que orientaram a leitura crítica. Na terceira seção, destinada à leitura crítica da obra, o conceito ―valor biográfico‖, conforme entendido por Arfuch (2010), foi tomado como um vetor analítico que permite uma leitura transversal das narrativas que, assim como a de Hospício é deus, compõem o espaço biográfico. Orientada por esse vetor e em diálogo com o quadro social, cultural e histórico que recuperamos no referencial teórico, nossa leitura de Hospício é deus tornou evidente uma dimensão ética que organiza a seleção de memórias e experiências pela narradora-protagonista, que estabelece, por sua vez, relações com problemáticas sociais muito mais amplas que a singularidade das memórias narradas.
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