Mobilidade sustentável: implantação de rede cicloviária na cidade de Cachoeira do Sul/RS
Resumo
Na era da industrialização, o automóvel passou a ser uma necessidade da população, mesmo somente os mais ricos
podendo adquiri-lo, este meio de transporte tornou-se desejável pela humanidade, por vários motivos, entre eles a
liberdade de ir e vir quando quisessem e para onde quisessem, aumentando significativamente a quantidade de
veículos nas urbes, foi um dos fatores que impactou a infraestrutura urbana e o modo de vida nas cidades
(MARICATO, Ciência e Ambiente 37, 2008).
Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN, 2023), em 2006 circulavam pelo Brasil 27,7
milhões de automóveis, em 2022, esse número aumentou para 60,4 milhões. Diante disso, as cidades não estão
preparadas para o aumento diário de novos veículos motorizados, pois desse crescimento surgem cotidianamente
problemas de mobilidade nos centros urbanos, sejam em grandes e ou médias cidades, mudando apenas a amplitude
e impacto dos problemas de mobilidade em função da escala urbana.
De acordo com o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), em São Paulo, os automóveis são responsáveis por
72,6% da emissão de gases de efeito estufa. Cruzamento de dados do DENATRAN (2010) realizado por pesquisador na
Universidade Católica de Brasília (UCB), mostra que para neutralizar as emissões de gás carbônico da frota de veículos
do Brasil precisaria aumentar em 11 vezes a cobertura de Mata Atlântica existente atualmente no território nacional.
Em função do aumento progressivo da poluição ambiental/urbana, os modais ativos ganharam espaço no cenário de
mobilidade, uma vez que constituem-se em meios de transporte que dependem da propulsão humana, como por
exemplo, bicicletas, patins, skates e patinetes. As vias públicas que antes eram planejadas somente para veículos
motorizados e pedestres, além das infraestruturas de ciclofaixa, começaram a ter espaço para outros meios de
locomoção pensando no conforto da população e no meio ambiente, tomando partido de estratégias de
infraestruturas verdes aliadas aos meios de locomoção junto às vias (PlanMOB, 2016, p. 91).
As vias cicláveis, destinadas ao trânsito de bicicletas e veículos similares (Academia Brasileira de Letras, 2023), além
de contribuírem com o meio ambiente, também promovem uma melhor qualidade de vida da população,
principalmente em relação à saúde. Nas cidades de grande fluxo de veículos cada vez mais são adotados modais
ativos, fugindo dos congestionamentos nos horários de pico. Nas cidades de médio e pequeno porte as vias cicláveis
se tornam ainda mais fáceis de serem atraídas pela população, pela facilidade e distâncias dos percursos.
Conforme visto em reportagem realizada pelo G1, os países mais desenvolvidos têm incentivado e utilizado cada vez
mais a bicicleta como meio de locomoção principal. China, Dinamarca, Londres e Holanda são países com alto nível de
uso da bicicleta, facilitando a locomoção devido a completa infraestrutura cicloviária com estratégias de segurança
como exemplo sinais de tráfego inteligente que detecta o ciclista se aproximando do cruzamento, fechando o sinal
para os demais veículos e dando prioridade para os ciclistas, além de estratégias de planejamento como o modal ativo
integrado com o transporte público, as estações de trem, por exemplo, são equipadas com bicicletários e uma grande
rede cicloviária que permite que o ciclista possa percorrer maiores distâncias em segurança e em uma via adequada.
Com o covid-19, caracterizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) , como pandemia em março de 2020, Paris
utilizou como estratégia de planejamento, juntamente com a expansão da micromobilidade e maior disponibilidade
de bicicletas nas ruas, a “Cidade de 15 minutos”, conceito parcialmente inspirado por Carlos Moreno, urbanista e
professor da Universidade de Sorbonne, na França, na obra “ Morte e Vida das Grandes Cidades” da autora Janes
Jacob, que se resume em uma descentralização e um desenvolvimento de novos serviços nos bairros, em que a
população tem acesso a uma máxima diversidade de serviços em aproximadamente 15 minutos de deslocamento por
meios de modais ativos como bicicleta e caminhada.
Segundo o site Mobilidade Estadão, Cidade de 15 minutos escrito por Beatriz Faria em 2021, o Urbanista Carlos
Moreno utilizou o conceito de Cidade de 15 minutos como estratégia de mobilidade durante a pandemia, além de
benefícios para a saúde e meio ambiente, caminhar e pedalar estão entre as formas de locomoção com menor risco
de contágio. Em entrevista ao jornal português O Expresso, ele defende a estratégia da Cidade de 15 minutos pela
redução da mobilidade descarbonizada com modal ativo, mas para que essa estratégia funcione a população requer
que os serviços estejam ao seu alcance o que se faz necessária essa descentralização e novos desenvolvimentos nos
bairros.
No Plano de Mobilidade Urbana de Cachoeira do Sul (PLANMOB), realizado com o apoio técnico da Universidade
Federal de Santa Maria - Campus Cachoeira do Sul (UFSM), há dados de um questionário realizado com 322 pessoas, em
que 18,8% utilizam a bicicleta como meio de locomoção, ainda nestas pesquisas e por meio de notícias publicadas pelos
jornais da cidade, percebe-se que há um aumento de acidentes envolvendo ciclistas, na maioria das vezes graves e fatais.
Cachoeira do Sul possui 80.070 habitantes (IBGE 2022), de acordo com o Portal da Câmara dos Deputados, se
caracteriza como uma cidade de médio porte, a maioria dos serviços e comércio se concentram na área central da
cidade o que dificulta o acesso fácil para os moradores de áreas mais distantes do centro. Conforme dados do PLANMOB
de Cachoeira do Sul, houve um aumento de 41,12% da frota de automóveis de 2010 a 2016.
A demanda por vias cicláveis na cidade é crescente, tanto para a utilização da bicicleta como meio de locomoção
principal como também para o lazer. Cachoeira do Sul possui grupos de ciclistas que organizam eventos de ciclismo
atraindo habitantes de outras regiões para participar e conhecer o município, o que auxilia a fomentar o tema para a
implantação de vias cicláveis.
É imprescindível desenvolver estratégias de planejamento e projeto urbano compatíveis com as questões de
sustentabilidade. Estão incluídos entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, que é
um plano global para que seja atingido em 2030 um mundo melhor para todos os povos e nações, saúde e bem estar,
cidades e comunidades sustentáveis e ação contra a mudança global do clima, o modal ativo auxilia na conquista desses
objetivos, pela maior qualidade de vida de quem utiliza o meio de locomoção e pela sustentabilidade e redução de gases
do efeito estufa que influenciam nas mudanças climáticas.
Visto as necessidades por uma melhor qualidade de vida e principalmente por um cuidado maior ao meio ambiente, a
mobilidade deve ser pensada como um processo democrático e saudável, buscando estratégias de melhoria de eficiência
energética dos veículos por meio de locomoção mais limpa, integrando o meio urbano com a natureza e incentivando o
uso de modais ativos.
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