Tecnologia de sementes e parâmetros morfofisiológicos na propagação de Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Apocynaceae)
Resumo
Tabernaemontana catharinensis, conhecida popularmente como cobrina, é uma
árvore nativa, pertencente à família Apocynaceae. Essa espécie é indicada para
reflorestamento e rica em compostos fitoquímicos além de ser utilizada na medicina
popular na forma de chá ou infusão de suas folhas e cascas. Impactos decorrentes
da extração indiscriminada de sementes e partes vegetativas de espécies nativas
vêm crescendo nos últimos anos, sendo um dos desafios para a produção o cultivo
das plantas em larga escala de modo sustentável, sem o comprometimento dos
recursos naturais. Contudo muitas espécies ainda carecem de informações
ecológicas, fisiológicas e agronômicas. Assim, os objetivos deste trabalho foram
avaliar a qualidade fisiológica das sementes e os parâmetros morfofisiológicos de T.
catharinensis propagadas in vitro e ex vitro. Para isso, frutos maduros foram
coletados no terço médio lateral de cinco matrizes com cerca de quatro metros de
altura e localizadas em remanescente vegetal, no município de Ijuí, região Noroeste
do Rio Grande do Sul (28° 26' 07"S e 53° 57' 50"O). Os experimentos foram
desenvolvidos em condições de laboratório e em casa de vegetação. Em laboratório,
sementes foram colocadas para germinar na presença de luz (fotoperíodo de 16
horas) e ausência de luz (escuro contínuo), testando-se cinco temperaturas: 15, 20,
25, 30 ºC e alternada 20-30 ºC (noite-dia). Três condições e temperaturas de
armazenamento: 25 ±1 ºC (sala de crescimento), 10 ±1 ºC (refrigerador) e 4 ±1 ºC
(câmara fria), constituíram o experimento para verificar o comportamento
germinativo e o teor de água durante seis períodos de armazenamento das
sementes (30, 60, 90, 120, 150 e 180 dias). Observou-se que, independente do
regime de luz (fotoperíodo de 16 horas e escuro contínuo), temperaturas de 25 e 30
ºC, promoveram maior percentagem de germinação das sementes de T.
catharinensis. Sementes de T. catharinensis comportam-se como fotoblásticas
neutras. O armazenamento das sementes de T. catharinensis por 180 dias reduz o
teor de água das sementes, não ocorrendo redução no potencial germinativo,
demonstrando um comportamento ortodoxo. Nos experimentos em condições in
vitro, para obtenção de plântulas e estabelecimento de T. catharinensis, sementes
foram pré-imersas em ácido giberélico (GA3) nas concentrações de 0,0; 300 e 600
mg L-1 em dois regimes de tempo 24 e 48h. Posteriormente, segmentos
cotiledonares de 1 cm de plântulas obtidas da germinação in vitro, com 70 dias de
idade, foram inoculados em meio de cultura com 100% dos sais minerais de MS
(MURASHIGE; SKOOG, 1962), acrescidos das combinações de 6-benzilaminopurina
(BAP) 0,0; 1,0; 2,0; 4,0; 6,0 mg L-1 e ácido naftalenoacético (ANA) 0,0; 0,1; 0,2; 0,4;
0,6 mg L-1; para o experimento de enraizamento in vitro, microestacas de 90 dias,
com três pares de folhas, foram inoculadas em MS (MURASHIGE; SKOOG, 1962),
acrescido com concentrações de ácido indolbutírico (AIB) 0,0; 1,0; 2,0; 4,0; 6,0 mg L1. A percentagem de germinação não diferiu significativamente em sementes préimersas
em GA3, contudo ocorreu redução na velocidade de germinação nas
concentrações de 300 e 600 mg L-1 de GA3 por 48h de imersão. No estabelecimento
in vitro, ocorreu a organogênese direta de brotações adventícias de explantes
cotiledonares de cobrina sem a necessidade de fitorreguladores de crescimento,
porém o uso de BAP associado ao ANA maximizou o número de brotos, folhas e a
massa fresca de brotações. Para o experimento de enraizamento in vitro a
suplementação de 1,0 e 6,0 mg L-1 de AIB ao meio de cultura proporcionou maiores
taxas de enraizamento (96,5 e 89%, respectivamente) e comprimento de raiz (15,96
e 15,60 cm, respectivamente). A ausência de fitorreguladores de crescimento (AIB)
reduziu o número de pontas e volume de raízes e os teores de clorofila b. Para o
experimento em casa de vegetação, os tratamentos constaram de composições do
substrato Mecplant® (substrato comercial), vermiculita de textura fina (V) e casca de
arroz carbonizada (CAC), avaliando-se a influência destes na emergência, vigor e
nos parâmetros morfofisiológicos de T. catharinensis. Verificou-se que no uso
isolado de substrato comercial 100% Mecplant® ocorreu menor emergência e IVG de
plântulas, afetando negativamente as características de crescimento. O substrato
comercial associado ao material inerte vermiculita nas formulações 50% Mecplant® +
50% V e 25% Mecplant® + 75% V propiciaram maior expressão do vigor de
sementes e maior crescimento de mudas, evidenciando ser mais adequado, dentre
os estudados, para a formação de mudas de cobrina. Teores de clorofila a, b, total e
carotenoides não são influenciados pelos substratos formulados. A relação da
clorofila a/b é mais elevada nos tratamentos T2 (75% Mecplant® + 25% V), T4 (25%
Mecplant® + 75% V) e T5 (75% Mecplant® + 25% CAC).