Distribuição espacial de macroinvertebrados bentônicos em riachos da região central do Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo
As percepções dos processos físicos e biológicos dependem da escala em que as observações são feitas. Devido à
escassez de estudos sobre os padrões de distribuição de macroinvertebrados bentônicos em múltiplas escalas em
regiões tropicais e subtropicais, o objetivo deste estudo foi analisar a estruturação das comunidades de
macroinvertebrados bentônicos em diferentes escalas espaciais (entre microbacias e entre trechos de diferentes
ordens de cada riacho) e identificar a influência de variáveis ambientais sobre a estruturação dessas comunidades.
A amostragem foi realizada com amostrador tipo Surber, nas microbacias dos rios Vacacaí-Mirim (agosto de
2008), Ibicuí-Mirim e Tororaipí (agosto de 2009). Em cada microbacia foram selecionados quatro pontos de
coleta segundo gradiente longitudinal (trechos de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª ordens). Em cada ponto de coleta foram
amostradas as variáveis ambientais: temperatura da água, pH, condutividade elétrica, oxigênio dissolvido,
granulometria do substrato e presença de vegetação aquática e ripária. Um total de 10.985 indivíduos, 42 famílias
e 129 táxons foram coletados, sendo que os táxons dominantes foram Simuliidae (14%), Naididae (13%),
Cricotopus sp. 1 (13%), Cricotopus sp. 2 (8%) (Chironomidae) e Paragripopteryx (5%) (Gripopterygidae) e
Americabaetis (5%) (Baetidae), perfazendo 58% da abundância total. Não houve diferença na riqueza entre as
microbacias, entretanto ocorreu diferença na estrutura das comunidades das três microbacias. As microbacias dos
rios Tororaipí e Ibicuí-Mirim apresentaram menor diferença entre si, que em relação à microbacia do Rio
Vacacaí-Mirim. Os trechos de 3ª e 4ª ordens apresentaram maior riqueza que os trechos de 1ª e 2ª ordens.
Adicionalmente, ocorreu diferença na estrutura das comunidades entre os trechos amostrados (56%), sendo que
apenas os trechos de 2ª e 3ª ordens não apresentaram diferença significativa entre si. De modo geral, as variáveis
ambientais que influenciaram a distribuição da comunidade foram a granulometria, a concentração de oxigênio
dissolvido, a condutividade elétrica e a vegetação aquática. Os macroinvertebrados típicos dos trechos de 1ª e 2ª
ordens da microbacia do Rio Vacacaí-Mirim e de 1ª ordem do Rio Tororaipí foram influenciados principalmente
pela maior granulometria e concentração de oxigênio dissolvido, enquanto os associados aos trechos de 3ª e 4ª
ordens foram influenciados pela maior condutividade elétrica. As microbacias dos rios Ibicuí-Mirim (exceto o
trecho de 2ª ordem) e Tororaipí (exceto os trechos de 1ª e 4ª ordens) não apresentaram diferença quanto às
ordens, sendo associadas à menor condutividade elétrica e à ausência de vegetação aquática. A granulometria não
influenciou a diferenciação das microbacias dos rios Ibicuí-Mirim e Tororaipí (exceto o trecho de 4ª ordem), pois
ambos possuem substrato mais fino, enquanto a microbacia do Rio Vacacaí-Mirim apresenta substrato pedregoso.
Isto provavelmente se deve ao fato do Rio Vacacaí-Mirim pertencer a uma bacia hidrográfica diferente (Bacia do
Rio Jacuí) das demais microbacias (Bacia do Rio Ibicuí). Possivelmente a maior condutividade elétrica seja típica
da primeira Bacia, visto que esta foi maior em todos os trechos amostrados, sendo aumentada ainda pela
proximidade da área urbana, com despejo de efluentes domésticos, assim como pela presença de agricultura
próxima às margens. Nas microbacias dos rios Ibicuí-Mirim e Tororaipí a diferenciação da estrutura da
comunidade encontrada deve ocorrer devido às características ambientais, como presença de substrato mais fino em ambos os rios e maior quantidade de vegetação ripária no Rio Tororaipí