DNA barcode de drosofilídeos micófagos pertencentes aos gêneros Hirtodrosophila, Mycodrosophila e Zygothrica
Resumo
A biodiversidade existente em nosso planeta é imensa e ainda está longe de ser conhecida. As
técnicas utilizadas na identificação de espécies baseiam-se, muitas vezes, na morfologia dos
espécimes, e sua descrição é um trabalho que demanda conhecimento e tempo, limitando-se à
especialistas. Em contrapartida, com a intenção de ser uma ferramenta mais rápida e de fácil
acesso, o DNA Barcode propõe o uso de uma sequência padronizada de DNA do gene
mitocondrial citocromo c oxidase subunidade I (COI) com o objetivo de identificar espécimes
a partir de espécies já descritas e descobrir novas espécies. Para sua efetividade, entretanto, é
preciso que propriedades como o monofiletismo das sequências intraespecíficas e a existência
de um gap entre as variações intra e interespecíficas sejam diagnosticadas. Neste trabalho, nós
testamos a eficácia desta técnica para a identificação/descoberta de espécies de drosofilídeos
micófagos dos gêneros Hirtodrosophila, Mycodrosophila e Zygothrica. Os espécimes foram
obtidos a partir de coletas realizadas na região Sul do Brasil, em especial, nos estados de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, totalizando 10 pontos de coleta e 177 indivíduos. Após a
identificação morfológica, o DNA total foi extraído e os genes COI (citocromo c oxidase
subunidade I) e COII (citocromo c oxidase subunidade II) foram amplificados e sequenciados,
obtendo-se 117 e 137 sequências, respectivamente, que foram posteriormente analisadas
através de métodos fenéticos e filogenéticos. Um total de 33 diferentes morfotipos foi
encontrado e, pelas coletas, pode-se perceber que os gêneros micófagos Hirtodrosophila,
Mycodrosophila e Zygothrica são bem distribuídos na região Sul. Muitas espécies, inclusive,
têm aqui seu primeiro registro de coleta para a região. As análises moleculares revelaram a
existência de um Barcode gap entre as distâncias intra e interespecíficas, porém com a
presença de sobreposição das distâncias interespecíficas congenéricas e intergenéricas,
propriedade que dificultam a clara delimitação dos gêneros, mas estimulam sua utilização
para a designação das espécies. Os fenogramas/filogenias obtidos pelos algoritmos de
Neighbor-Joining/Análise Bayesiana também mostraram que, a despeito da monofilia
recíproca apresentada pelas diferentes espécies, os três gêneros apresentam-se polifiléticos
dentro de Drosophilidae. Neste sentido, sugere-se aqui que a técnica seja efetiva na
discriminação de espécies, mas não de gêneros diferentes. De fato, a aplicação da técnica de
DNA Barcode para este grupo de organismos revelou a sua utilidade em auxiliar na
discriminação entre espécies crípticas quando a análise de caracteres morfológicos não se faz
precisa, principalmente pela existência exclusiva de fêmeas. Além disso, nossos dados
demonstram a importância de agregar o DNA Barcode a dados de morfologia, o que pode
auxiliar na deliminação ou até levar à diferenciação de prováveis espécies novas.