Borboletas frugívoras (Lepidoptera: Nymphalidae) de Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo
Dentre alguns fatores responsáveis pela ocorrência e distribuição das espécies, a heterogeneidade e a complexidade estrutural do ambiente podem ser determinantes para a sua sobrevivência. A partir disso, este estudo buscou caracterizar a guilda de borboletas frugívoras numa região de transição entre os biomas Mata Atlântica e Pampa, no município de Santa Maria, RS, promovendo uma comparação quanto à riqueza, composição e abundância das espécies e sua associação com algumas variáveis microclimáticas. Entre outubro de 2011 e maio de 2012, amostragens mensais foram realizadas em quatro áreas amostrais, duas associadas a cada bioma, utilizando o método de armadilhas com isca atrativa de banana fermentada em caldo de cana. Ao final de sete amostragens, foram capturadas 1.829 borboletas frugívoras, pertencentes a 40 espécies e quatro subfamílias. A riqueza amostrada representa adequadamente a guilda de borboletas frugívoras presente nas áreas amostrais, como indicou o estimador de riqueza Jackknife 1. As áreas associadas a Mata Atlântica apresentaram maior riqueza de espécies (S=36) em comparação com as áreas do Pampa (S=27). Da riqueza total, 23 espécies ocorreram em áreas associadas aos dois biomas, outras 13 apresentaram associação exclusiva com as áreas associadas a Mata Atlântica, e quatro somente foram amostradas no Pampa. Considerando a abundância, 66,05% dos indivíduos se concentraram nas áreas campestres (formação vegetal característica das áreas associadas ao Bioma Pampa), e apenas 33.95% nas áreas florestadas (formação vegetal característica das áreas associadas ao Bioma Mata Atlântica). Hamadryas epinome (C. Felder & R. Felder, 1867) e Forsterinaria necys (Godart, [1824]) apresentaram valores de indicação significativos para as áreas associadas a Mata Atlântica, enquanto que Moneuptychia soter (Butler, 1877), Paryphthimoides phronius (Godart, [1824]) e Paryphthimoides poltys (Prittwitz, 1865) tiveram valores de indicação para as áreas associadas ao Pampa. Com relação às variáveis microclimáticas, constatou-se uma associação entre luminosidade, temperatura e umidade relativa sobre a ocorrência de boa parte das espécies de borboletas frugívoras. Os resultados do presente estudo reforçam o potencial de bioindicação da guilda de borboletas frugívoras, pois os padrões de composição, riqueza e abundância deste grupo se mostram fortemente associados com as variações ambientais.