Avaliação do potencial prognóstico da anemia e do RDW na estratificação de risco em pacientes com síndrome coronariana aguda
Resumo
A cardiopatia isquêmica destaca-se entre as doenças que acometem o sistema cardiovascular, devido à sua alta prevalência e a seu impacto sobre a mortalidade na população em geral. As doenças isquêmicas do coração são a principal causa de mortalidade mundial, nas Américas e no Brasil. O termo SCA é usado para descrever um espectro heterogêneo de condições clínicas associadas com isquemia aguda do miocárdio, incluindo angina instável e infarto agudo do miocárdio (IAM). A diversidade na apresentação clínica de pacientes com esta patologia representa um desafio para os clínicos em termos de diagnóstico e de estratificação de risco apropriada. Algumas ferramentas clínicas como exame físico, observações eletrocardiográficas e escores de risco, são de extrema relevância na identificação de pacientes com alto risco de desfechos clínicos desfavoráveis. Além disso, alguns biomarcadores plasmáticos também vêm sendo utilizados com este propósito e a busca por novos parâmetros com potencial prognóstico tem sido alvo de intensas pesquisas. Neste contexto, destaca-se a utilização dos testes hematológicos de rotina na estratificação de risco, uma vez que o hemograma é um exame amplamente disponível para uso clínico e possui uma boa relação custo benefício. Estudos recentes tem investigado o potencial papel de alguns dos índices hematimétricos, especialmente anemia e amplitude de distribuição dos eritrócitos (RDW), na avaliação prognóstica de pacientes apresentando diversas condições cardiovasculares. A presença de anemia, bem como valores elevados de RDW em pacientes com SCA tem sido independentemente associados com maior risco de eventos adversos como mortalidade, desenvolvimento de insuficiência cardíaca e ocorrência de eventos isquêmicos recorrentes. Os escores de estratificação de risco, principalmente o Global Registry of Acute Coronary Events (GRACE), são amplamente utilizados na avaliação prognóstica de pacientes com SCA. No entanto, os modelos disponíveis atualmente não incluem os índices hematimétricos na determinação do risco do paciente. Considerando que a estratificação de risco é parte fundamental da avaliação de pacientes com SCA, podendo evitar ou mesmo minimizar consequências adversas nestes indivíduos, o principal objetivo deste estudo foi investigar se a inclusão de anemia ou RDW, avaliados na admissão hospitalar, ao escore GRACE para a predição de mortalidade durante o período de internação hospitalar, podem melhorar a calibração e discriminação do modelo, bem como a estratificação de risco em pacientes com SCA. Para isso, um estudo de coorte, incluindo 109 pacientes com IAM, foi realizado. Modelos de regressão de Cox incluindo as variáveis do escore GRACE e o RDW ou a anemia foram construídos. Medidas de calibração e discriminação também foram calculadas, bem como o percentual de reclassificação dos pacientes para os novos modelos propostos. Os novos modelos, tanto com a inclusão de anemia, quanto com a adição de RDW, apresentaram adequada calibração e discriminação. Além disso, a adição destes parâmetros ao modelo original permitiu uma adequada reclassificação dos pacientes em diferentes categorias de risco. Os índices hematimétricos, anemia e RDW, demonstraram potencial prognóstico para utilização na avaliação de risco de pacientes com SCA, permitindo o aprimoramento da estratificação de risco realizada através do escore GRACE.