Disparidades raciais na saúde bucal em adolescentes brasileiros: uma abordagem multinível
Resumo
O objetivo desse estudo foi verificar a ocorrência e a magnitude de diferenças raciais em desfechos clínicos e subjetivos de saúde bucal em adolescentes brasileiros. Um levantamento epidemiológico foi realizado, em 2012, com uma amostra de escolares de 12 anos na cidade de Santa Maria-RS, Brasil. Dados foram coletados através de exames clínicos e entrevistas estruturadas. Os critérios clínicos avaliados foram cárie dentária, presença de placa e cálculo dental e sangramento gengival. Os participantes responderam a versão brasileira e reduzida do Child Perceptions Questionnaire (CPQ11-14). As condições socioeconômicas e o principal preditor deste estudo, raça, foram coletados através de questionários respondidos pelos pais. Variáveis relacionadas ao bairro da escola em que as crianças estudavam foram obtidas de publicações oficiais do município. Os dados foram analisados através do programa estatístico STATA 12.0, utilizando o modelo multinível de Regressão de Poisson para determinar as associações entre raça, variáveis clínicas, qualidade de vida relacionada à saúde bucal e uso de serviços odontológicos. Um total de 1134 adolescentes foi examinado. Indivíduos não-brancos apresentaram piores condições clínicas quando comparados aos brancos. Em relação à cárie, adolescentes não-brancos tiveram maior número de dentes perdidos e menor número de dentes restaurados (RR 1,92 IC 1,31-2,82 e RR 0,52 IC 0,37-0,71, respectivamente). Relacionado às condições periodontais, o mesmo grupo apresentou maior taxa de placa dental (RR 1,14 IC 1,09-1,18) e sangramento gengival (RR 1,07 IC 1,02-1,12). Não houve diferenças relacionadas ao uso de serviços odontológicos. No entanto, a procura por motivo de dor foi maior para adolescentes não-brancos (RR 1,36 IC 1,05-1,77). Adolescentes não-brancos apresentaram uma pior qualidade de vida relacionada à saúde bucal. Os domínios mais afetados do CPQ 11-14 foram Bem estar Emocional (RR 1,10 IC 1,00-1,20) e Bem estar Social (RR 1,16 IC 1,03-1,10). Existem desigualdades raciais em desfechos clínicos, subjetivos e no motivo do uso de serviços em adolescentes brasileiros. Os resultados apontam a necessidade de políticas públicas de saúde que considerem a existência dessas diferenças e reforcem a atenção a grupos étnicos minoritários no intuito de reduzir essas inequidades.