Representação social da ortotanásia: significados atribuídos por enfermeiros e médicos na unidade de terapia intensiva
Resumo
Nesta pesquisa, propõe-se uma aproximação do significado atribuído por enfermeiros e médicos em
relação à prática da ortotanásia. Para tanto, fora traçado o objetivo de analisar as representações sociais dos
enfermeiros e médicos, atuantes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), diante da prática da ortotanásia e como
essas representações influenciam na atuação profissional. Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratório pautada
na abordagem qualitativa, que adota como referencial teórico as Representações Sociais de Moscovici. Foi
desenvolvida na UTI adulto de um Hospital público localizado no centro geográfico do Estado do Rio Grande do
Sul (RS) participaram cinco enfermeiras, e cinco médicos. Optou-se pela entrevista semi-dirigida. O período de
coleta dos dados ocorreu de janeiro a março de 2008. As questões éticas na pesquisa foram consideradas
conforme previsto pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, para a realização de pesquisa com
seres humanos. Após a análise de conteúdo de Bardin, foi possível identificar alguns distanciamentos e
aproximações das representações. A proliferação vocabular que designa a ortotanásia é permeada por dúvidas e
indefinições de seu conceito e aplicabilidade, e a possibilidade desta ação ser facilmente deturpada ou
confundida com a eutanásia. A ortotanásia aparece de maneira latente nos discursos, e os profissionais não
mencionam diretamente a sua ação. O termo está relacionado com a possibilidade da morte ocorrer no momento
certo sem dor e sofrimento desnecessário. Referem saber exatamente que a prática da ortotanásia é ilegal no
ambiente hospitalar. As representações dos enfermeiros na ortotanásia estão direcionadas à paliação do
sofrimento, sendo sua operacionalização confirmada com os métodos de não ressuscitação cardiorespiratória
(RCR), no paciente considerado não investível. As representações dos médicos quanto a ortotanásia são
construídas na mesma perspectiva, como contraponto ao sofrimento apresentado pelo paciente e a não RCR
conduz o resultado, contudo direcionam sua atenção ao receio e as angústias que essa decisão provoca o risco da
punição jurídica. Tratar sobre o assunto da prática da ortotanásia, não foi simplesmente considerá-la como algo
mecanizada, mas sim contextualizar sua atuação frente à dinâmica de uma rotina que tenta mascará-la,
simplesmente pelo fato de não existir amparos das diferentes áreas, seja da medicina a jurisdição. De fato, a
ortotanásia, que se instala no ambiente hospitalar, foi percebida pelos profissionais como a possibilidade viável
de tratar a morte como um processo irremediável e constante, de forma a contrapor qualquer tipo de
prolongamento do sofrimento humano. Desta forma, é necessário pensar a contextualização de o paciente morrer
de forma digna, a partir das ações que visem percebe-lo como mortal.