Perspectivas de mulheres que denunciam o vivido da violência: cuidado de enfermagem à luz de Schutz
Abstract
A investigação teve como objetivo apreender os motivos para da mulher que realiza a ação de
denunciar o seu vivido em situação de violência. Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com
abordagem fenomenológica, à luz do referencial teórico metodológico de Alfred Schütz. O cenário foi
a Delegacia de Polícia para Mulher e a Delegacia de Pronto Atendimento de um município do interior
do Rio Grande do Sul/Brasil. As participantes do estudo foram mulheres da faixa etária dos 18 aos 59
anos que procuram o serviço para realização do registro de ocorrência da violência pelo companheiro.
Para produção dos dados, utilizou-se a entrevista fenomenológica, as quais encerraram no 13º encontro
empático, quando se percebeu a suficiência de significados. A partir de suas intencionalidades
desvelou-se que as mulheres, ao vivenciarem a ação de denunciar, esperam acabar com a situação de
violência que elas não aceitam e não aguentam mais. Elas desejam ter paz e poder retomar seus planos
e sua vida, com intenção de se separar do companheiro. Elas têm expectativas com relação à
necessidade de justiça e de proteção sua e de seu/sua(s) filho/a(s). Ao revelar sua motivação em
denunciar, estabelece uma relação de anonimato com seu companheiro, uma vez que a denúncia
perpassa pela decisão de romper com costumes que não aceita mais e que lhe causam sofrimento. A
partir de suas experiências cotidianas de violência, passam então a questionar o conhecimento do
senso comum, que tipifica padrões culturais de grupos sociais e assume uma postura de rompimento
com a fórmula típica de perceber a mulher no relacionamento com o companheiro na atitude natural.
Desvelou-se que, na relação intersubjetiva com o companheiro, há carência de intercâmbios de pontos
de vista, alegando que esse fere seus direitos como pessoa. Respaldadas por uma legislação que coíbe
a violência, as mulheres passam a questionar tal situação, não a aceitando mais como um pressuposto e
expressam o desejo de não compartilhar mais uma história que vinha sendo construída em comum. As
expectativas em relação à ação de denunciar expressam o desejo de conduzi-la até o final, bem como
da necessidade de acreditar na justiça e seus desfechos. A intenção da denúncia revela a necessidade
de proteger e criar seu/s filho/a(s) livre(s) da violência por eles assistida e por vezes vivenciada.
Revelam sua angústia no que diz respeito a estarem vivas para poder cuidar do/a filho/a, uma vez que
o companheiro ameaça tirar sua vida. Desse modo, o típico da ação, como perspectiva para a
enfermagem, amplia a compreensão do profissional da saúde, que pode melhor direcionar suas ações
em saúde, a partir da subjetividade dos sujeitos. Vislumbra-se que o cuidar em enfermagem
deve/poderá estar voltado para as perspectivas da mulher em situação de violência, a partir de sua
realidade social, inserida no seu mundo, considerando as relações que estabelece, sua história de vida,
a fim de reconhecer suas necessidades e demandas em saúde, a partir de uma perspectiva dialógica,
com vistas a romper com o ciclo de naturalização e aceitação da violência.