Influência do ômega 3 sobre sintomas extrapiramidais, deficiência cognitiva e parâmetros de estresse oxidativo em animais tratados com neurolépticos
Resumo
Neurolépticos típicos como haloperidol e flufenazina são amplamente empregados no tratamento das doenças mentais, cujo uso crônico está associado a efeitos adversos que afetam
as funções motoras e de memória, entre outras. Os distúrbios motores podem ser mais brandos, e incluem tremores, acatisia, distonias, como também uma síndrome mais grave, a
discinesia tardia (DT). Estudos têm demonstrado que os ácidos graxos poliinsaturados (AGPIs) podem afetar as funções fisiológicas envolvidas nos distúrbios do movimento e de memória, através da composição da membrana fosfolipídica das células neuronais. O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da suplementação dos AGPIs n-3 (ômega-3) sobre a
discinesia orofacial e a disfunção de memória induzidas por haloperidol e flufenazina, designados como experimento 1 e 2, respectivamente. Em ambos os experimentos, ratos Wistar machos receberam no lugar da água de beber, uma suspensão com cápsulas de óleo de peixe (OP), cuja composição foi determinada através de cromatografia gasosa (EPA-20%,
DHA 6%, ácido linolênico 0,4%), ou veículo (C). Após 8 semanas de tratamento, metade dos animais de cada grupo experimental receberam uma administração semanal de neuroléptico (12 mg/kg/mL;im) (H-haloperidol e F-flufenazina, nos experimentos 1 e 2 respectivamente) ou veículo por 4 semanas. Durante este tratamento a ingestão ad libitum de ômega-3 na água de beber foi mantida. Os animais foram semanalmente observados para a quantificação da
discinesia orofacial (DO) (incidência de movimentos de mascar no vazio - VCM) no 7º, 14º, 21º e 28º dias após a primeira administração de neuroléptico ou veículo. Logo após cada
observação orofacial, todos os animais tratados com neurolépticos (grupos H e OP+H, experimento 1; F e OP+F, experimento 2) foram submetidos à quantificação do tempo de
catalepsia. Na última semana de tratamento, de ambos os experimentos foram submetidos ao teste de memória em water-maze , após 4 dias de treinamento. No 8º dia após a última administração de neuroléptico/veículo, os ratos foram sacrificados por exsanguínação (punção cardíaca), com coleta de sangue e retirada de tecidos cerebrais (substância-negra e
hipocampo) para determinação de parâmetros de peroxidação lipídica. Os dados da DO (VCMs) foram analisados por ANOVA de três vias com medida repetida, seguida por teste de
Duncan e teste T pareado; O tempo de catalepsia foi avaliado por ANOVA de uma via com medida repetida, seguida de teste T pareado; Resultados obtidos em paradigma de labirinto
aquático e avaliações de peroxidação lipídica (TBARS) foram avaliados por ANOVA de duas vias seguida de teste de Duncan. Foram considerados significativos os valores de P<0.05, para todas as avaliações. O ômega-3 diminuiu as desordens motoras (VCM e tempo de catalepsia), os prejuízos de memória e parâmetros de peroxidação lipídica induzidos pelos neurolépticos, sugerindo que esses efeitos estão relacionados com as propriedades anti-apoptóticas dos
ácidos graxos essenciais. Nossos resultados ressaltam a importância da inclusão de ácidos graxos n-3s na dieta
ou através da sua suplemantação, os quais podem prevenir ou atenuar distúrbios motores e de memória, freqüentemente relacionados ao tratamento crônico com neurolépticos típicos, que até o momento não dispõe de um tratamento eficaz.