Influência do manuseio neonatal sobre os efeitos do estresse emocional e sua interação com fármaco benzodiazepínico em ratos
Resumo
A exposição de roedores a estímulos como o manuseio neonatal, tem sido descrita por causar alterações comportamentais e fisiológicas benéficas na vida adulta. Já a exposição de animais adultos a ambientes estressantes, pode resultar em prejuízos emocionais e patologias neuro-psiquiátricas. Este estudo objetivou investigar a possível influência de dois tipos de manuseio neonatal, estimulação tátil (ET) e separação materna (SM), sobre o estado emocional de ratos após exposição ao estresse crônico e moderado (ECM) superlotação, distúrbio do ciclo claro/escuro, serragem molhada entre outros. Também objetivamos avaliar se a ET neonatal poderia modificar os efeitos ansiolíticos observados com uma baixa dose de fármaco benzodiazepínico nos animais adultos. No 1º estudo, filhotes machos de ratos Wistar foram submetidos diariamente à ET ou SM desde o dia pós-natal 1 (DPN1) até o DPN21, durante 10 minutos. Os animais não manuseados (NM) permaneceram no ninho sem nenhuma manipulação. Na vida adulta (DPN67), metade dos animais de cada grupo foram expostos ao ECM durante 3 semanas e observados no teste de preferência pela sacarose (PS), labirinto em cruz elevado (LCE) e teste defensivo de cavocar (TDC), seguido de eutanásia para avaliações bioquímicas e hormonais. O ECM reduziu a PS, aumentou a ansiedade no LCE e TDC e aumentou o peso das adrenais. Alguns parâmetros de defesas antioxidants em plasma, hipocampo e córtex foram alterados pela exposição ao ECM, enquanto um aumento da oxidação proteica em hipocampo e córtex também foram observados. Ambas as formas de manuseio neonatal foram capazes de prevenir as mudanças na PS, ansiedade no TDC e peso das adrenais. Também preveniram as alterações nas defesas antioxidants em plasma, hipocampo e córtex e a oxidação proteica no hipocampo. Apenas a ET preveniu a ansiedade induzida pelo ECM no LCE e a oxidação proteica no córtex. Além disso, a ET foi associada aos menores níveis de cortisol comparado aos ratos NM antes e após a exposição ao estresse. Uma vez que a ET apresentou melhores resultados, realizamos um 2º experimento apenas com essa forma de manuseio neonatal. Na vida adulta, os animais receberam uma única administração de diazepam (DZP) (0.25 mg/Kg peso corporal-i.p.) ou veículo (V), e foram submetidos às avaliações comportamentais. O tratamento com DZP reduziu comportamentos de ansiedade no LCE e aumentou a exploração no LCE, no teste da escada e campo aberto apenas no grupo ET. Considerando os animais NM, o tratamento com DZP apenas aumentou a exploração no teste da escada. Os animais do grupo ET tratados com DZP apresentaram menor ansiedade em vários parâmetros do LCE, maior comportamento exploratório no teste da escada e campo aberto e menor imobilidade no TDC. Os resultados do presente estudo demonstraram o papel protetor do manuseio neonatal, especialmente da ET, a qual pode melhorar a habilidade para lidar com situações estressantes na vida adulta e afetar a resposta a substâncias benzodiazepínicas nesse período.