Efeitos benéficos do extrato das cascas de noz pecã (Carya illinoensis) sobre parâmetros bioquímicos e comportamentais de camundongos expostos ao fumo passivo
Resumo
O tabagismo representa a segunda maior causa de mortes no mundo, sendo
responsável por 5 milhões de mortes anuais. Não apenas os fumantes ativos estão
sujeitos aos efeitos danosos do cigarro, mas também os fumantes passivos, que
compreendem um terço da população adulta mundial. A fumaça do cigarro contém
nicotina e outros compostos relacionados à adição, bem como constituintes capazes
de gerar estresse oxidativo (EO), um desequilíbrio entre os oxidantes e as defesas
antioxidantes do organismo, possivelmente responsável pelos efeitos danosos do
cigarro sobre o organismo. A casca da noz pecã (Carya illinoensis) é um subproduto
industrial de baixo custo e elevado poder antioxidante, cujo chá é utilizado
popularmente para tratar intoxicações medicamentosas e resultantes do tabagismo.
Porém, até o momento, esse emprego não apresenta validação científica. Em vista
disso, o presente estudo investigou a possível atividade protetora do extrato aquoso
bruto (EAB) da casca da noz pecã sobre parâmetros comportamentais de
abstinência e parâmetros bioquímicos de EO em animais expostos ao fumo passivo.
Camundongos Swiss receberam água potável ou EAB (25g/L), ad libitum, no lugar
da água de beber, uma semana antes e durante toda exposição à fumaça do
cigarro, a qual teve duração de 3 semanas (6, 10 e 14 cigarros/dia em cada semana,
respectivamente) e ocorreu em incubadora modificada. A concentração ambiental de
monóxido de carbono e material particulado total na incubadora foram 130ppm e
188mg/m3, respectivamente. Quinze horas após a última exposição ao fumo passivo
os animais foram avaliados no teste do campo aberto e no teste de esconder
esferas. Vinte horas após a última exposição ao fumo passivo os animais foram
anestesiados e eutanasiados por exsanguinação (punção cardíaca), com coleta de
sangue e retirada do cérebro para as análises bioquímicas. Os dados foram
analisados por ANOVA de uma ou duas vias, seguido pelo teste de Duncan quando
necessário. O protocolo de exposição ao fumo passivo elevou a concentração total
de dióxido de carbono sanguíneo e o hematócrito, os quais são marcadores indiretos
de exposição à fumaça do cigarro, bem como reduziu o ganho de peso dos animais
sem alterar o consumo de líquidos. No campo aberto, animais expostos ao fumo
passivo apresentaram aumento da atividade locomotora e exploratória, do tempo de
auto-limpeza e do número de bolos fecais, bem como mostraram aumento do
número de esferas escondidas no teste de esconder esferas em relação aos
controles. Os animais que receberam EAB não desenvolveram essas modificações comportamentais, as quais indicam ansiedade, característica essa relacionada à
abstinência ao cigarro. Neste estudo, o envolvimento do tabagismo com os danos
oxidativos já descritos na literatura foi confirmado através do aumento da
peroxidação lipídica cerebral e eritrocitária, aumento da atividade da catalase (CAT)
eritrocitária e redução das concentrações plasmáticas de ácido ascórbico. O EAB da
casca de noz pecã protegeu os animais expostos ao fumo passivo da peroxidação
lipídica e da redução dos níveis plasmáticos de ácido ascórbico. A atividade da CAT
permaneceu aumentada nos eritrócitos e elevou-se no cérebro dos animais expostos
ao fumo passivo e tratados com EAB em relação aos controles, possivelmente pela
indução de mecanismos compensatórios que visam eliminar o excesso de espécies
reativas de oxigênio (EROs) induzido pelo cigarro. Hipotetizou-se que esses
resultados bioquímicos devem-se, em grande parte, ao elevado potencial
antioxidante do EAB, confirmado através dos testes in vitro do ABTS (2,2´-
azinobis(3-etilbenzotiazolina-6-ácido sulfônico) e do DPPH (2,2-difenil-1-picrilhidrazil)
e pela dosagem de compostos fenólicos totais e taninos condensados.
Através de correlação de Pearson, foram observadas correlações positivas entre os
parâmetros comportamentais e a peroxidação lipídica eritrocitária, confirmando o
envolvimento da ansiedade com o EO. Os resultados apresentados aqui evidenciam
os efeitos protetores do EAB das cascas da noz pecã sobre os sinais de ansiedade
durante abstinência e sobre danos oxidativos e defesas antioxidantes alterados pelo
fumo passivo em camundongos. Ademais, confirma-se o uso popular do extrato das
cascas de noz pecã frente danos induzidos pelo cigarro e entende-se que esse
subproduto da indústria pode ser considerado no tratamento do tabagismo, o que
aumentaria o carente arsenal terapêutico empregado atualmente no tratamento do
tabagismo. Maiores estudos elucidando os componentes presentes nesse extrato,
bem como os mecanismos neurais relacionados aos resultados encontrados são
necessários.