Husserl e os limites da redução fenomenológica nas idéias I
Resumo
A não compreensão da peculiaridade da problemática fenomenológica husserliana em relação às ciências de fato e em especial à psicologia (já seja uma não compreensão
oriunda de filósofos ou psicólogos alheios ou não ao movimento fenomenológico) constituí a justificativa para desenvolvimento do presente trabalho. Se mesmo alguns de seus discípulos não a compreenderam, não seria demais supor que atualmente (isto é, com o distanciamento de um século) tal problemática continuaria incompreendida. Com isso, nosso
objetivo específico é compreender o alcance e os limites da redução fenomenológica, o método que nos franqueia o acesso livre ao território fenomenológico. Assim poderemos
superar efetivamente os obstáculos que mantém o pensamento espiritual fechado em seu próprio horizonte. Nossas investigações estão centradas nas duas primeiras partes das Idéias I, a primeira obra que veio publicamente com a meta específica de ser uma introdução sistemática a fenomenologia. No primeiro capítulo deste trabalho, nos manteremos propriamente no território da lógica formal, investigaremos as diferenças de principio entre essências e fatos, bem como entre ciências de essências e ciências de fatos para poder compreender como a filosofia deve se constituir como ciência de essências peculiar e autônoma. No segundo e no terceiro capítulo, não obstante, nos moveremos, pois, em território fenomenológico. Enquanto no segundo investigaremos a designação e a efetivação da restrição na atitude natural para enfim entendermos como tal redução se efetua; no terceiro, a meta é estabelecer uma distinção definitiva entre a abstração em atitude
fenomenológica das meras abstrações das ciências naturais. A partir tirar-de-circuito primordial (termo este que alude a manifestação da redução) desenvolver-se-á outros
ensaios de tirar-de-circuito, ampliando assim a redução fenomenológica a outras esferas transcendentes do ser. Com essas ponderações esperamos ter nos livrado finalmente
daquela constante tentação de estabelecer uma metabasis errônea própria do pensamento que se fecha numa atitude teórica natural.