Sobre estruturas linguísticas e paradigmas: as releituras recentes de Carnap e Kuhn
Resumo
A literatura recente em filosofia da ciência vêm reavaliando o legado positivista. Um
dos itens dessa reavaliação é a suposta oposição entre as teses defendidas por positivistas como
Carnap e os chamados pós-positivistas , como Kuhn. Embora este último tenha sido percebido
como um crítico de diversas teses positivistas importantes, autores mais recentes como Friedman,
Reisch, Earman, Irzik e Grünberg, sustentam que várias das teses mais características da
concepção kuhniana da ciência já estariam presentes na filosofia positivista. Contra esse tipo
de leitura, autores como Oliveira e Psillos argumentam que não há na filosofia de Carnap e
outros positivistas lugar para teses como a da incomensurabilidade, do holismo ou da impregnação
teórica das observações, características das concepções kuhnianas. O primeiro artigo
desta dissertação apresenta as razões para cada uma dessas leituras e avalia cada uma tendo
em vista a perspectiva a partir da qual elas são oferecidas. Defende que é possível mostrar
que algumas teses kuhnianas têm uma contraparte já nos trabalhos de Carnap, muito embora
tais teses ocupem posições e importâncias diferenciadas em Carnap e Kuhn. O segundo artigo
apresenta aspectos que podem ser vistos como antagônicos nas filosofias de ambos, a saber, as
concepções que dizem respeito àquela distinção feita famosa por Reichenbach entre contextos
de descoberta e justificação.