O conceito kantiano de mal radical e o resgate da disposição originária para o bem
Resumo
A presente Dissertação é uma reconstrução do conceito de mal radical (Radicale Böse) tratado por Kant em seu artigo Sobre o mal radical na natureza humana (Über das radicale Böse in der menschlichen Natur), publicado em 1792. A partir dos dados desse texto o que se fez foi explicitar em que termos Kant aborda tanto a questão do mal moral
propriamente dito (concebido posteriormente como radical), como também a da possibilidade de um progresso humano no que tange à moralidade. Nessa tratativa, Kant introduz algumas noções que são exclusivas à problemática do mal, entre elas, o conceito de intenção (Gesinnung), as noções de propensão para o mal (Hang zum Bösen) e de disposição para o bem (Anlage zum Guten), também as idéias de revolução e de reforma gradual (como meios de se alcançar o progresso moral), e, enfim, uma nova definição de natureza. Embora se sirva de termos exclusivos, o artigo sobre o mal mantém muitas das noções básicas desenvolvidas por Kant em obras anteriores. Daí porque a Dissertação não se restringe ao artigo Sobre o mal radical, mas se estende por outras obras em busca de recorrências feitas com dois objetivos bem precisos: um, elucidativo, em que se apresenta questões já plenamente consolidadas na filosofia kantiana; outro, comparativo, seja em relação a termos que adquiriram um sentido distinto, seja em vista de alterações propositivas, repensadas diante de um novo contexto e submetidas a uma nova configuração. Esse é o horizonte que esta Dissertação busca reconstruir e dentro do qual se insere. Relativo à questão do mal (e de seu qualificativo de radical), várias outras questões são tratadas de modo específico, por exemplo, a origem do mal, a imputabilidade do homem pela sua existência, as noções de virtude (concebidas tanto no domínio moral quanto no campo legal), o conceito de ação viciosa, a idéia de uma educação moral e, além dela, a função da religião como fomentadora e mantenedora de uma boa conduta moral. Essas questões, na medida do possível, foram harmonizadas entre si e reconstruídas pelo ponto de vista próprio da filosofia de Kant: o crítico-sistemático.