Da representação à sensibilidade: um olhar levinasiano sobre a fenomenologia
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2015-08-19Metadatos
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Na tradição filosófica ocidental, a reflexão gnosiológica não conferiu à sensibilidade um papel de relevo. A vida sensível só possui valor quando submetida ao poder formador e estruturante do intelecto ou do entendimento. Ao criticar o intelectualismo de nossa tradição filosófica, Levinas fala em primado da representação, isto é, do movimento teórico e objetivante da consciência, sem o qual o sensível jamais poderia significar ou possuir sentido. Explicitar esta tese de Levinas será o alvo desta dissertação. Nós o faremos identificando algumas consequências desse primado da representação, bem como apresentando um modo de filosofar que visa reabilitar a sensibilidade no âmbito da filosofia. Para tanto, focalizamos, inicialmente, o conceito de representação, principalmente no que se refere à gnosiologia construída por filósofos do período moderno. Dentre eles, Husserl, o pai da fenomenologia, foi o filósofo que estudamos de forma mais detalhada, pois, sob muitos aspectos, foi o mestre de Levinas. Apresentamos, assim, a leitura e posterior análise da obra Investigações Lógicas II (1901), mais especificamente, da Quinta Investigação, intitulada Sobre vivências intencionais e seus conteúdos . Optamos por essa investigação lógica em função de Levinas referenciá-la inúmeras vezes em seu texto A Teoria Fenomenológica da Intuição (1930), escrito que motivou, inicialmente, esta pesquisa e que sustentou boa parte dos estudos desenvolvidos no segundo capítulo. A reflexão levinasiana sobre a fenomenologia de Husserl nos possibilitou retomar algumas críticas aos pensadores modernos, como também, vislumbrar horizontes filosóficos que abrem um além da teoria e da representação. Se, por um lado, Husserl poderia ser visto como o ponto culminante de uma tradição que privilegiou a representação em detrimento da sensibilidade, é o mesmo Husserl que ensinou a Levinas a importância de uma fenomenologia pautada na sensibilidade. Na obra Descobrindo a existência com Husserl e Heidegger (1967), Levinas critica a primazia da representação e apresenta a importância do retorno ao estudo da sensibilidade não mais reduzida ao estatuto gnosiológico do saber. Trata-se de retomar a noção de sensibilidade, para além da submissão ao eu racional totalizante. A atenção de Levinas recai sobre um eu que não tem seu modo de existir unicamente pautado na esfera imanente da consciência, mas sim que se percebe como sendo um eu junto do mundo, um eu encarnado, um eu em situação . Ora, este é, curiosamente, o ensinamento de Husserl! A fenomenologia do sensível desenvolvida por ele provocou, segundo Levinas, a ruína da representação. Mas esta ruína não significa, no caso de Levinas, aderir a uma metafísica do anônimo (Heidegger), e sim uma nova forma de fazer filosofia, não mais alicerçada no primado da ontologia e do logos. Trata-se de uma filosofia como sabedoria do amor, isto é, que parte não da lógica do mesmo , mas da alteridade (outro ser humano), que vem a nós como rosto , como presença concreta (outrem). O eu em sentido levinasiano se descobre imerso em outra busca: atitude de respeito, de responsabilidade, de cuidado, de ethos não só em relação a si mesmo, mas também e, sobretudo, ao outro , ao mundo e aos imprevistos da história.