Cobertura vegetal e qualidade ambiental na área urbana de Santa Maria (RS)
Resumo
A desconsideração dos atributos naturais no processo de urbanização se reflete em muitas cidades que passam por um profundo processo de perda da qualidade ambiental, desafiando aos mais diferentes pesquisadores e profissionais que discutem o planejamento urbano e ambiental a buscarem alternativas que auxiliem na gestão dos conflitos existentes na relação sociedade-natureza nas áreas urbanas. Relacionada a uma série de funcionalidades ambientais, a presença da cobertura vegetal mostra-se essencial na composição da paisagem urbana, sendo que a partir dela é possível que muitos problemas ambientais possam ser amenizados ou resolvidos. Neste contexto, a presente pesquisa buscou investigar a variação da distribuição da vegetação arbórea na área urbana de Santa Maria nos últimos quarenta e cinco anos, destacando seu potencial para a garantia da funcionalidade térmica e hidrológica da cidade. Buscou-se na interpretação da paisagem urbana a partir da perspectiva geossistêmica o suporte metodológico para alcançar os objetivos propostos, dialogando com os saberes difundidos nas discussões que envolvem a ecologia urbana e a conservação da natureza nas cidades. Sendo assim, partiu-se de uma revisão teórico-metodológica dos conceitos e processos envolvidos na investigação, seguindo com uma caracterização natural e histórico-territorial da paisagem urbana de Santa Maria. Prosseguiu-se com a análise temporal e espacial da paisagem urbana local, observando a variação da estrutura horizontal de cobertura vegetal nas últimas décadas (1966-2011), e definindo unidades de paisagem na área urbana de Santa Maria (Geofácies dentro do Geossistema urbano). Após isso, foram selecionadas quatro áreas pilotos nas quais foi analisada a contribuição da cobertura vegetal no desempenho das funcionalidades térmica e hidrológica, contextualizando com resultados de pesquisas já realizadas em Santa Maria sobre o campo térmico local e acerca das características de escoamento superficial da cidade. Os resultados obtidos mostram que a cobertura vegetal teve um decréscimo significativo nas últimas décadas, chegando a registrar perda de 12,38% de cobertura vegetal total entre 1980 e 2011, que resulta em uma configuração de fragmentos arbóreos pequenos e isolados na chamada Geofácie de áreas densamente edificadas. Observa-se que a porcentagem de cobertura vegetal arbórea encontrada para 2011, de 32,90% para toda área urbana, se deve muito aos altos índices de arborização situados nas Geofácies de morros do rebordo e de morros testemunhos, que possibilitam esconder o alto grau de fragmentação observado nas áreas edificadas. Quanto às análises da variabilidade térmica e da regulação hidrológica nas áreas piloto, se pode observar claramente a contribuição da cobertura vegetal na amenização das temperaturas em dias quentes e seu potencial de diminuição da velocidade de escoamento superficial em episódios de precipitação. Observados os benefícios discutidos, mensurados e comprovados da cobertura vegetal em áreas urbanas, considera-se essencial para a melhoria da qualidade ambiental de Santa Maria, que sejam implantadas novas áreas verdes, estabelecendo critérios para que a disposição correta da arborização possa maximizar os seus efeitos positivos.