Agricultura familiar e suas estratégias de resistência na Campanha gaúcha: o caso do Rincão dos Saldanhas e do Cerro da Jaguatirica - Manoel Viana/RS
Resumo
A agricultura familiar é responsável por grande parte do fornecimento alimentar do brasileiro. Entretanto, apesar de sua importância no cenário agrícola nacional, a agricultura familiar passa por processos de transformações e adaptações para se reproduzir, gerar renda e cumprir com seu papel social. Em um país com fortes raízes agrárias centradas no latifúndio, com políticas públicas voltadas, em grande medida, para o agronegócio, a agricultura familiar não é atendida de forma eficiente e funcional pelos programas e políticas direcionados ao setor. Muitas vezes subsiste na invisibilidade socioeconômica, pressionada pelo agronegócio. Esse é o caso da agricultura familiar desenvolvida nas localidades do Rincão dos Saldanhas e do Cerro da Jaguatirica, situadas no município de Manoel Viana/RS. Estratégias de resistência são adotadas com o intuito de manter o trabalho e a vida no campo por parte dos agricultores familiares dessas localidades. É possível perceber, que mesmo buscando formas alternativas e atividades não agrícolas, muitas famílias não resistem às dificuldades que enfrentam e deixam o campo. Quais são essas estratégias de resistência que possibilitam às famílias de agricultores permanecerem no meio rural? Porque muitas desistem, engrossando as fileiras do êxodo rural? Essas são questões que este trabalho pretende responder. Almeja-se investigar as formas de resistências, objetivando compreender a agricultura familiar em seu processo de resistência e transformação, forjado por seus sujeitos, na área pesquisada. Buscou-se entender a interrelação dos processos envolvidos historicamente, com o objetivo de compreender a realidade atual dos agricultores familiares dessas duas localidades. A pesquisa foi realizada em quatro etapas: a primeira consistiu na pesquisa teórica sobre o tema; a segunda foi centrada na coleta de dados de fontes secundárias, com a intenção de entender o alcance das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar. A terceira etapa correspondeu a coleta de dados primários através dos trabalhos de campo, foram realizadas observações empíricas, entrevistas e conversas informais que constituíram um conjunto de procedimentos metodológicos fundamentais para a análise e compreensão dos processos envolvidos. A quarta e última etapa consistiu na sistematização dos dados coletados, interpretando-os de forma crítica e qualitativa, a fim de compreender a situação socioeconômica e cultural dos sujeitos envolvidos, os processos relacionados ao tema proposto, nas escalas local, regional e nacional. Constatou-se que as formas de resistências encontradas por essas famílias são fundamentais para sua reprodução socioeconômica, entretanto, o papel do Estado enquanto agente fomentador das políticas públicas ainda não é eficaz para que a agricultura familiar alcance autonomia em sua reprodução e seja reconhecida em seu papel socioeconômico.