A representação dos atores sociais em um manual de iniciação em justiça restaurativa: a emergência de um novo paradigma
Abstract
Como um novo paradigma, a justiça restaurativa fundamenta-se em uma cultura de paz, oferecendo meios alternativos para a resolução de conflitos que podem ser aplicados não apenas no campo jurídico, mas também no comunitário, educacional e familiar. A partir disso, buscamos responder, com este estudo, a seguinte pergunta: no contexto brasileiro, como os atores sociais são representados linguisticamente em um manual didático voltado para a formação de agentes sociais
capazes de coordenar práticas de justiça restaurativa? O objetivo principal deste trabalho é analisar as formas de representação dos atores sociais expressas em um
manual de justiça restaurativa. Para tanto, tomamos como corpus o manual Iniciação em Justiça Restaurativa: subsídios de práticas restaurativas para a transformação de conflitos (2006), utilizado nas atividades de formação do projeto gaúcho Justiça para o Século 21. Selecionamos para a análise linguística os enunciados do manual que pertencem a um roteiro destinado a orientar a realização de Procedimentos
Restaurativos, pelo viés das teorias de gêneros discursivos. Com base nos pressupostos bakhtinianos, analisamos as formas linguísticas inseridas em determinado contexto sócio-histórico. Realizamos uma análise sócio-histórica do
contexto mais imediato e do mais amplo que envolve a produção do manual e analisamos as formas de representação dos atores sociais com base nas categorias elaboradas por van Leeuwen (1997). Por meio deste estudo, verificamos que as escolhas linguísticas, produzidas em dado contexto, refletem uma tensão dialógica entre realidades distintas. A análise mostrou que as representações dos atores
sociais apontam, na maioria das vezes, para uma realidade construída de acordo com os ideais do paradigma restaurativo. Contudo, certas representações distanciam-se desses ideais. A nosso ver, a linguagem revela que a justiça
restaurativa, durante esse seu período inicial de implantação, vem dialogando com outras visões de mundo, como uma tentativa de estabelecer-se como um paradigma.