Opacidade fonológica em português: uma resposta via Teoria da Otimidade conexionista para uma questão cartesiana
Resumo
Opacidade fonológica faz referências às regras ou processos que ou deveriam se aplicar em um contexto, mas não se aplicam, ou se aplicam mesmo sem um contexto aparente. Como esses processos de sub-aplicação e superaplicação de regras encontram-se nos estágios intermediários entre a subjacência e a superfície, a Teoria Gerativa Clássica (TCG) os acomodava sem muitos problemas em seus ordenamentos lineares de aplicação. Dada à grande abstração desse modelo, contudo, novos modelos gerativos vêm à tona; um deles é a Teoria da Otimidade (TO). Nesse modelo centrado no output, estão previstos, originalmente, apenas dois níveis de representação: a subjacência e a superfície, banindo, assim, estágios intermediários entre a representação linguística e a produção. Sem tais níveis, a teoria foi obrigada a repensar sua estrutura e funcionamento para tentar acomodar os casos opacos. No entanto, as reestruturações gerativas da TO não conseguem abarcar os fenômenos opacos da língua do homem com eficácia. Abordamos, nessa dissertação, os seguintes modelos gerativos para o tratamento da opacidade: Conjunção Local de Restrições; Teoria da Simpatia; LPM-TO; TO-Serial; e a TO com cadeias de candidatos. Abordamos, também, grande parcela das críticas presentes na literatura para cada um desses modelos. O fato de que a TO Standard e suas variantes não conseguem lidar com a opacidade em todas as suas faces, somado ao fato de que alguns autores apontam que a questão da opacidade não é unificada nem mesmo para a TGC, faz-nos pensar que essa obscuridade é oriunda do paradigma no qual tais modelos se inserem, o paradigma racionalista. Apostamos, então, que a mudança de paradigma seria frutífera para essa problemática. Nesta dissertação de mestrado, desta forma, abrimos mão de representações linguísticas cartesianas e de um mapeamento linguístico complexo e optamos por contemplar uma visão emergentista para a opacidade fonológica. Constatamos ao longo do trabalho que, nesse novo prisma, a opacidade pode ser acomodada de forma transparente. Modelos multirrepresentacionais e modelos conexionistas, ao abarcarem uma representação linguística coerente com os achados da neurociência, sendo esta flexível, gradual e rica de detalhamento fonético, conseguem narrar os fatos taxados como opacos. Contudo, a primeira sorte de modelos, ao carecer de formalização linguística, torna-se enfraquecida ao comparar-se com os mecanismos da TO, por exemplo. Nesta luz, propomos que a TO puramente conexionista, proposta por Bonilha (2004), seja um modelo adequado para acomodar a opacidade, tendo em vista que esse, além de conseguir trazer a transparência para a opacidade fonológica, também consegue, como atestamos, formalizar esses fenômenos linguísticos.