O dizer na e sobre a língua de sujeitos descendentes de imigrantes italianos e a fronteira enunciativa
Resumo
Este trabalho tem como objeto de estudo o funcionamento da memória discursiva, da memória da língua e da fronteira enunciativa em enunciados de sujeitos descendentes de
imigrantes italianos. Tais enunciados foram recortados de textos de entrevistas realizadas com cinco descendentes, que vivem no município de Ivorá, Quarta Colônia de Imigração
italiana. Para a realização desta pesquisa, consideramos, primeiramente, alguns aspectos do discurso historiográfico que remetem ao processo imigratório no Brasil, com ênfase na
imigração italiana, e apontamos as principais causas e consequências desse acontecimento para o campo econômico e cultural do país. Num segundo momento consideramos as
políticas linguísticas do Estado Novo bem como a interdição imposta às línguas de imigração através da nacionalização do ensino. Realizamos a análise de alguns decretos-leis que vigoraram neste período a fim de observar como o Estado interferiu no funcionamento da língua italiana nas colônias de imigrantes e o que resultou dessa interferência. O terceiro momento do trabalho se caracteriza por uma revisão teórica de autores que tratam de questões relativas à enunciação. Também analisamos o funcionamento da fronteira linguística em sequências enunciativas de sujeitos descendentes
de imigrantes italianos e como eles distribuem as línguas que falam por estarem afetados pelo espaço de enunciação. A última parte deste trabalho é dedicada ao exercício analítico,
momento no qual analisamos o funcionamento da memória discursiva, da memória da língua e da fronteira enunciativa, a partir de uma inscrição teórica na Semântica da
Enunciação. Observamos que o sujeito descendente de imigrantes italianos, ao predicar sobre a(s) língua(s) (italiana e portuguesa), significa na sua enunciação o conflito (político)
pela distribuição desigual que faz dessas línguas nos espaços do dizer. Este sujeito político e histórico, em determinadas circunstâncias, ao enunciar instaura uma fronteira enunciativa,
que significa, pela memória discursiva e pela memória da língua, os lugares em que ele pode e deve dizer em cada língua (italiana e portuguesa).