Estudo da fábula: contexto linguagem e representação
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2011-03-02Metadatos
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Este trabalho parte do pressuposto de que a linguagem é o principal meio de socialização dos indivíduos. Haja vista sua funcionalidade, mais do que permitir a simples troca de informações, ela permite estabelecer relações interpessoais, manifestar e construir representações de experiências. Nesse sentido, este estudo apresenta a análise de sete fábulas originalmente atribuídas a Esopo e sete versões revisitadas por Millôr Fernandes. Produções distantes vinte e cinco séculos, esses textos são estudados sob a perspectiva de seu Potencial de Estrutura Genológica (PEG), com o objetivo de analisar, por meio da descrição contextual e léxico-gramatical, representações dos personagens em fábulas esopianas e fábulas de Millôr Fernandes. Para isso, os pressupostos teóricos fundamentais utilizados são a noção de gênero de Hasan (1989), a concepção de contexto situacional de Halliday (1989), as categorias léxico-gramaticais do sistema de transitividade da Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday & Matthiessen (2004), as categorias léxico-semânticas da Teoria da Avaliatividade de Martin & White (2005), a teoria das representações sociais de Moscovici (2009) e o modelo tridimensional de Fairclough (2001). Os resultados evidenciam que, no que tange ao gênero, as fábulas produzidas por Millôr Fernandes apresentam um estágio que denominamos [E#3.3] Consumação e/ou continuação da conclusão, inexistente nas fábulas esopianas, o que traz desfechos diferentes. Em relação aos contextos sociais nos quais as fábulas foram produzidas, a análise apresentou semelhanças e diferenças no que se refere às situações de opressão vividas por Esopo na condição de escravo e vividas por Millôr Fernandes no período de Ditadura Militar brasileira. Por outro lado, a natureza e as consequências dessa opressão são distintas no contexto de cada autor. Em relação à análise linguística, os papéis léxico-gramaticais desempenhados pelos personagens principais e as avaliações manifestadas pelas marcas de afeto, julgamento, apreciação e força apontam para representações como reflexos dos contextos situacionais e culturais vivenciados pelos fabulistas. Nas fábulas de Esopo, os personagens representados como vitoriosos, que têm seus objetivos atingidos, usam mais a imposição de sua força física do que recursos linguísticos. Nas fábulas de Millôr Fernandes, ao contrário, os personagens vitoriosos utilizam-se mais dos recursos da linguagem para vencer os mais fortes. Nesse sentido, a representação apontada para a sociedade clássica é a de que a força se sobressaía à palavra, sendo utilizada com mais frequência e eficiência. A representação que se configura para a sociedade contemporânea de Millôr, em contrapartida, é a de que a linguagem é utilizada como principal recurso para solucionar problemas e superar os mais fortes.